A terceira e última temporada de Young Royals fecha com esplendor a jornada de amor, complicada e muito expositiva, entre Wilhelm (Edvin Ryding) e Simon (Omar Rudberg), a qual acompanhamos desde 2021. É como se tudo que tudo que vimos até então, só pudesse levar única e exclusivamente para esse final.

Para melhor compreensão dessa questão, vamos fazer uma retomada: Wilhelm, príncipe da Suécia entra no colégio interno Hillerska após problemas de violência, e logo de cara já se encanta com o estudante bolsista Simon, ao vê-lo cantar. Durante a primeira temporada, nós conhecemos a escola, seus trotes problemáticos, sua hierarquia rigorosa e seus alunos da alta sociedade, como também acompanhamos o amor florescer entre os dois meninos. E tudo vai correndo com excitação até a morte de Erik (Ivar Forsling), irmão de Wilhelm, obrigando o mais novo a assumir o título de príncipe herdeiro. Ou seja, mais responsabilidade, mais visibilidade e óbvio, um desastre final, um vídeo íntimo do casal vazado por August  (Malte Gårdinger), primo de Wilhelm, o qual consegue se safar da culpa.

Assim, na segunda temporada, os dois passam a maior parte separados, pois Wilhelm não assumiu sua participação no vídeo, gerando repercussões negativas apenas para Simon. Nessa temporada vemos mais a intervenção direta da monarquia no controle das ações do príncipe, sem espaço para sofrer o luto pelo seu irmão, Wilhelm ainda enfrenta a heteronormatividade imposta por seus colegas.

O foco da temporada são as questões emocionais internas dos personagens. Simon também enfrenta as consequências por sua relação com Wilhelm, portanto tem seu hino feito para os 120 anos da escola é cortado, fazendo-o entender a força que a monarquia tem na vida de alguém. Mas o príncipe finalmente assume sua participação no vídeo, diante de todos os alunos e da família real, em plena comemoração de aniversário da escola e August é denunciado para polícia por suas ações, mas não apenas se safa novamente como se torna o próximo na linha do trono, depois de Wilhelm.

E agora, tudo que já foi mostrado vem à tona com maior comoção. Se antes, tínhamos apenas uma degustação, uma prova da exposição do relacionamento, um gostinho das problemáticas da escola, experimentamos a influência da monarquia, a última temporada traz tudo em uma refeição completa. Cada personagem do núcleo principal aparenta estar a um passo de um colapso, até mesmo a rainha (Pernilla August), que pode acabar abandonando seu cargo a qualquer momento. Os riscos nunca foram tão altos! Como Wilhelm assume algo que nunca quis?  Como Simon vai lidar com a exposição da sua vida pessoal? Qual foi o custo para August de ter tudo que sempre quis?

A produção sempre teve muito esmero pelo simbólico nos figurinos e nos quartos dos dois personagens principais, e isso não foi diferente nessa temporada. Wilhelm, que sempre usou roupas de tons mais frios ou escuros, usa no primeiro episódio um blusão rosa bebê, reforçando sua crença que agora assumido, seus problemas diminuiriam, pois seria ele e Simon contra o mundo. O que rapidamente se desfaz e suas roupas voltam às cores antigas, principalmente quando está no palácio, onde ele praticamente se mistura com o cenário. O que condiz com suas ações durante a temporada, já que com maiores responsabilidades, ele acaba por muitas vezes só seguir o que é pedido, mostrando até um pouco de sua hipocrisia, pois mesmo que tenha desejos de liberdade, o príncipe segue sendo alguém com uma vida extremamente privilegiada que não tem noção de outras realidades além da dele.

Já Simon não teve grande mudança em suas roupas, mas sim em seu quarto, que sempre foi iluminado por diversas luzes coloridas. O personagem recebeu diversos comentários ofensivos e ameaças, e cada episódio era mais podado pela equipe do palácio, até o ponto de excluir suas redes sociais, não poder cantar e tocar suas composições, ou seja, ele precisou se apagar para entrar na vida do príncipe herdeiro. De modo igual, a cada episódio seu quarto perdia a cor e se tornava mais cinza, assim como normalmente viamos o quarto de Wilhelm.

Já para August, o que é mais relevante destacar, é que o mesmo sempre foi mostrado como um personagem complexo, ele tem distúrbios alimentares, ele estava falido após o suícido do seu pai, contudo sempre foi um ótimo comunicador, sempre esteve disposto e sorridente em eventos públicos, sabia o nome de todos, não importando qualquer crise que podia estar passando. Nessa temporada, vemos ele mais retraído, com grande culpa, e querendo recuperar a garota que ele gosta, que aliás é a irmã de Simon, Sara (Frida Argento). Ele se torna um personagem ainda mais interessante justamente por seu final, pois ele não é condenado à eterna infelicidade, ele consegue a coroa, entretanto termina em remorso, e percebe que perdeu muito do que nunca tinha imaginado nem ganhar.

E para aumentar o senso de risco e urgência, a escola entra em crise, pois o discurso de Wilhelm ao assumir sua participação no vídeo vazado, faz com que antigos alunos resolvam denunciar as ações abusivas que ocorrem em Hillerska, retomando o que vimos na primeira temporada. Para salvar a escola, a diretoria confisca os celulares, estipula um horário de recolhimento e a formatura é cancelada. As cenas foram bem expositivas e até em certos momentos jogadas, mas a situação funcionou como impulsionador na história, e reforçou incisivamente o fim da série, já não havendo mais um ambiente onde todos esses personagens poderiam retornar.

No mais,  a ruína da escola também reforça a crítica a alta sociedade que nas outras duas temporadas, apesar de estar presente, é bem mais discreta. Uma escola advinda de ideais aristocratas, composta por alunos da nobreza sueca, os quais criticam a manifestação no dia do trabalho, mas resolvem fazer uma greve para terem seus celulares de volta, uma greve que para esses alunos não passou de uma festa do pijama. De uma forma que nenhuma das outras duas temporadas fez, a produção deixa clara sua posição, inclusive quanto ao sistema monárquico, tirando qualquer ideal romântico e utópico do casal enfrentar o “país inteiro” juntos.

Por fim, o último episódio traz diversos paralelos com as outras temporadas, por exemplo, no último episódio da primeira temporada, Wilhelm e sua mãe estão no carro, onde ela afirma que ninguém da família real pediu para ter aquela vida, e isso se repete nessa temporada, só que ao invés de ser uma briga, é um desabafo, outro exemplo é o hino cortado de Simon, os quais os próprios alunos decidem cantar no último episódio.

O final é encantador e livre, nós não sabemos nada do futuro deles, onde eles vão passar as férias ou que escola eles vão estudar, mas isso não importa, pois a jornada foi completa. Tudo que nos foi apresentado, foi de alguma forma finalizado, é perceptível o zelo de todos os envolvidos no projeto e quando, em conclusão, Wilhelm olha para câmera e sorri pela primeira vez, o espectador sorri de volta.

______________________________________

|| ASSINE NOSSO PODCAST ||

SpotifyApple PodcastsDeezerCastBoxAmazon MusicPodcast AddictPodchaserRSS

.
.
.

COMO ANATOMIA DE UMA QUEDA CRIA TENSÃO ?