Em uma nova empreitada nas adaptações de videogames, Uncharted: fora do mapa (2022) se encarrega de desenvolver uma experiência do nível da franquia de jogos e ser uma aventura ao estilo Indiana Jones. No entanto, a grande questão é saber se, no fim das contas, o longa-metragem fez sucesso.

Talvez o incômodo mais perceptível seja a necessidade de motivação explícita quando Nathan Drake, interpretado por Tom Holland, tem seus interesses como personagem colocados à prova. Não existe nuance entre o desafio e o objetivo e, a todo o instante, a história prova ser um avanço entre fases, cujo protagonista é uma mera peça. Seu carisma, aliado à boa desenvoltura, é o único aspecto de relação.

A direção não sabe usar os espaços a seu favor. Mesmo com uma variedade de cenários e ambientes, mantém-se viciada em planos fechados nos rostos dos personagens, assim como é perceptível a utilização da lente com o desfoque ao fundo, deixando as sequências plásticas.

Isso já não bastando a captura da fotografia ao realçar recorrentemente os efeitos visuais de forma abrupta – em vez de fluida e unida aos acontecimentos –, adentrando sobre mitologias e lendas nunca se arrisca em ter isso como inspiração visual e se mantém numa linha de um A lenda do tesouro perdido (2004) de baixo orçamento.

As sequências de ação abusam do estímulo de adrenalina sem aquele teor do risco. Tudo é muito seguro – mesmo com a escala gigantesca e desproporcional de risco na ação, algo vindouro da franquia de jogos – mas quando tratamos da mídia original, Uncharted sempre sobressaiu pela experiência cinematográfica em um jogo. Quanto adaptado para as telas, perde o recurso de estar dentro da história e os eventos e de acompanhar os eventos como telespectador. Neste caso não há ousadia. As referências e os aspectos do jogo são deixadas de lado. A beleza e o encanto se mantêm quando a direção permite originalidade e não mera homenagem.

Enquanto a aventura se perde em devaneio, a comicidade é o ponto base da história, não só as piadas, mas ocorrências bem elaboradas que fazem a trama girar ao redor do clímax.

Sendo que esse tem uma distanciamento muito forte, pois os antagonistas maniqueístas e unilaterais só nos deixam exaustos com inúmeras falas batidas. O brilho nos olhos é mantido pelo belo trabalho de humor sarcástico de Mark Wahlberg como Victor Sullivan, o querido Sully.

Aliás, sobre o aspecto de adaptação para as telas a dupla de protagonistas pode se considerar um acerto, mesmo que Tom Holland ainda mantenha alguns maneirismos do seu papel anterior na franquia “Homem-aranha”.

Almejando ser leve mas se tornando uma pluma que some ao vento, Uncharted alegra o público pelo bom humor e a concentração no básico da história, mesmo que isso não seja o suficiente para ser marcante ou pelo menos interessante.

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Graduando de Comunicação Social e Ciências Sociais, Intérprete de LIBRAS e cursado na AIC em Roteiro de Cinema e TV. Pai de duas crianças lindas, fã do Batman desde pirralho, cinéfilo amante de Kyoshi Kurosawa, Dario Argento e Guel Arraes.