Numa Londres fria, em meio a uma lojinha calorosa, forrada de produtos natalinos, está Katarina (Emilia Clarke). Lá, ela é o elfo (vulgo funcionária), que nutre desde a infância o desejo inquieto de cantar. Porém, após uma experiência grave de saúde, o propósito desse desejo é, gradualmente, posto em cheque enquanto acompanha o desenrolar de uma série de mudanças de perspectiva dela em relação a si mesma.
A ironia triste é que o cantor e compositor pop britânico faleceu justamente no natal, em 2016, adicionando um sentido póstumo ao próprio título do filme Last Christmas (“Último Natal”, na tradução literal) que é também o nome de uma de suas músicas, obviamente presente na trilha sonora. Porém, a repetição dessa canção acaba por enfraquecer o seu impacto narrativo. O curioso é que o cantor se relaciona afetivamente com a protagonista a todo momento por meio da música, mas também de um outro modo menos convencional, a grande surpresa agridoce do filme.
No entanto, parece faltar tato para tratar de certas dores, o que acaba por relativizar questões sensíveis. Servem de exemplos as cenas em que Petra (Emma Thompson), a mãe de Katarina – imigrante da Iugoslávia, que chega a Londres como refugiada de guerra – tem seu amargurado canto de saudade da terra natal, algo que funciona ali como um traço identitário, ironizado ou censurado por mais de uma vez.
Outro momento, se refere à quando, de forma entretida e casual, a protagonista fala sobre as mortes de Kurt Cobain e Amy Winehouse. Talvez seja o humor britânico, mas, ainda assim, está bastante deslocado, já que se opõe à própria proposta do filme. Quando o objeto da piada trata de uma questão significativa, é fundamental que o humor seja crítico, ou corre o risco de se converter em uma mera “piada pela piada”, com traço insensível e, digamos, anti-natalino.
Em meio a isso, também alguns personagens são inverossímeis ou pouco desenvolvidos. Como o pai de Katarina, Ivan (Boris Isakovic), que ora diz estar infeliz no casamento, ora parece muito alegre ao lado da esposa. Também a irmã (Lydia Leonard), uma personagem lésbica que inicialmente parecia oferecer alguma relevância para o desenvolvimento da protagonista, mas que não evolui e se torna meramente decorativa. Ainda assim, o filme apresenta bons momentos cômicos e tem sua maior força ancorada na homenagem à figura de George Michael.
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Como TARANTINO filma uma cena?