Quando eu era criança, eu era obcecada em Xuxa Abracadabra. Aluguei o DVD trocentas vezes, decorei todas as falas, tenho a música do encerramento até hoje grudada na minha cabeça. Hoje, adulta, estou comprometida ao juramento de nunca assistir esse filme de novo porque eu tenho plena consciência de que ele vai ser horrível. Vou deixar que a criança que mora dentro de mim continue achando que o filme é uma obra prima. Uma das vantagens de ser criança é estar cagando e andando para a qualidade técnica de um filme, e é assim que “Uma Fada Veio Me Visitar” tem sua chance de conquistar a nova geração introduzida à cultura de Filmes da Xuxa.

A cultura de nepobaby chegou com tudo no Brasil e, para mim, foi a bomba atômica neste filme. Tontom Perissé com certeza é uma ótima musicista, mas duvido muito que tenha minimamente feito um cursinho livre de teatro antes de decidir que queria muito ser protagonista de um filme deste patamar. Sua capacidade dramática (ou cômica) é equiparável à uma apresentação de fim de ano de jardim de infância.

Não sou a favor do tal Star Talent — quando escalam celebridades pelo marketing —, mas alguns ao menos se esforçam. Tontom Perissé foi um dos motivos para eu não conseguir aproveitar a adaptação do meu livro favorito de infância.

O segundo motivo foi a correria da resolução do conflito em prol de lembrar o público do tamanho do estrelato que a Xuxa teve nos anos 80. O filme consegue encaixar muito bem na narrativa homenagens à Rainha dos Baixinhos na sua volta às telas de cinema e faz humor leve e genuíno com suas referências. E eu estava gostando até perceber que, para dar espaço a isso, sacrificaram a profundidade da história de Lara Amaral.

Sempre foi minha parte favorita do livro, em meus tenros onze anos de idade, a gravidade da situação de Lara e como o desenvolvimento de Luna estava atrelado ao seu papel essencial em ajudar sua ex-inimiga a lidar com tudo. Não vejo como uma “aliviada” em seu problema teria como justificativa a abertura do filme para o público infantil, visto que as histórias de Thalita Rebouças sempre tiveram espaço para os mais jovens. Todo o problema é resolvido de uma forma tão corrida que se torna uma esquete.

No final, temos Xuxa relembrando o público de como ela ama os animais e está decidida a proteger a natureza, acabar com a violência e desigualdade, fazer do mundo um lugar melhor e blá blá blá. Tal qual um legítimo Filme da Xuxa. Pode levar as crianças ao cinema, elas não vão ligar pra nada que eu acabei de dizer.

 

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ATUANDO COMO SUPER-HERÓI

 

Formada no curso técnico em Produção de Áudio e Vídeo da FAETEC, bacharelanda em Cinema pela Estácio. Atriz, roteirista, dramaturga e a maior fã de Neil Gaiman a pisar nesta Terra.