Em entrevista, o diretor de “Um Dia de Chuva em Nova York”, Woody Allen, disse que sempre sonhou em fazer um filme cujo o elemento principal fosse a chuva na Big Apple. Ressaltou ainda que o roteiro do mesmo já havia sido escrito há anos – porém, o diretor ainda não havia encontrado o elenco certo de jovens atores para dar vida aos protagonistas: o casal Gatsby (Timothée Chalamet), um jovem universitário intelectual, que detesta a mãe, é viciado em cultura e prefere enxergar o mundo em preto e branco e à moda antiga – um alter ego de Woody Allen, por assim dizer – e Ashleigh (Elle Fanning), uma estudante de jornalismo do interior que se deslumbra com o que Nova York tem a oferecer, e por fim Chan (Selena Gomez), a irmã de uma antiga ex-namorada de Gatsby, mas que enxerga o mundo no mesmo tom que ele – e o surpreende.

Neste sentido, Woody Allen acertou. Valeu a pena a espera pelos atores certos, especialmente Timothée Chalamet, que interpreta os diálogos longos típicos do roteiro do diretor com muita fluidez e naturalidade, e também se adapta muito bem as cenas sarcásticas e divertidas. Além disso, Elle Fanning conquista o público com sua interpretação muito confiante de uma personagem que apesar de inteligente, é insegura, convencendo o público do porquê três personagens ficaram encantados com ela na tela.

No entanto, é nesta parte que entra o problema – ou a falta de timing do filme. Esses três personagens que se atraem pela personagem de Fanning, a jovem estudante de 21 anos, são homens bem mais velhos que ela. Inclusive, o debate envolvendo a atração entre mulheres jovens e homens mais velhos é um dos temas principais de “Um Dia de Chuva em Nova York”.

Coincidência ou não, o fato é que para os mais sensíveis, assistir o filme sabendo das acusações de abuso sexual feitas recentemente pela ex-esposa do diretor Woody Allen em relação a sua filha, pode tornar a experiência, no mínimo, desconfortável. Este escândalo também resultou no atraso do lançamento do filme, previsto para o ano passado, mas que ficou congelado pela produtora Amazon Prime até então.

Entretanto, o ritmo do filme é bom e a fotografia beira a poesia. O roteiro, além de divertir, também transmite muito conhecimento sobre o mundo das artes, do cinema e da música – deixando um quê de curiosidade em relação aos muitos artistas citados, o que é uma característica comum nos filmes de Allen, mas que neste sobressai e conduz o telespectador com muita naturalidade para outras épocas.

Um ingrediente que também deu muito certo em outro filme do diretor, “Meia Noite em Paris”, de 2011.  Nesse contexto, um dos pontos altos do filme é a cena onde Gatsby, (Chalamet), toca piano e canta na presença de Chan (Gomez) a canção “Everything Happens to Me”, um jazz original de 1940 e com intérpretes ilustres da belle epóque, como Chet Baker e Frank Sinatra.

Apesar da polêmica, uma fórmula previsível e temas repetidos na filmografia do diretor, como traição conjugal, insegurança e insatisfação nas relações amorosas, “Um Dia de Chuva em Nova York” representa como ninguém a pulsão de vida que a cidade oferece, seduzindo e convencendo até os amantes do calor de que não é necessário um dia de sol para tudo o que a gente mais deseja, finalmente, aconteça.

 

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Como TARANTINO filma uma cena?

Jornalista apaixonada por cinema, cultura e poesia. Coleciono fantasias e acredito que sou uma, como dizia uma tal de Marilyn Monroe. Lirismo que corrói. Só me encontro no excêntrico.