Já imaginou adquirir a habilidade de saltar entre os milhares universos do multiverso somente através da sua própria consciência? Essa é uma premissa de Everything Everywhere All at Once, ou “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e já adianto que as comparações com “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” não são tão válidas. Já que Hollywood perdeu o medo de viajar na fantasia/ficção científica ao colocar o elemento de multiverso em sua obras, seja de maneira imprecisa – vide Morbius – ou incrível, o qual é o caso deste filme que irei falar.

Os responsáveis pela direção e roteiro são os Daniels (Dan Kwan e Daniel Scheinert), a dupla é conhecida por dirigir o clipe musical Turn Down for What de DJ Snake e Lil Jon em 2014 bem como o filme “Um Cadáver Para Sobreviver” protagonizado por Paul Dano e Daniel Radcliffe e distribuído pela A24. 

A A24 é um estúdio de filmes norte americano que tem notoriedade em trazer projetos desestabilizadores para as telas do cinema. É de lá que saiu “Moonlight”, “Spring Breakrs”, “Ex Machina”, “Lady Bird”, entre outros sucessos que sempre geram um grande impacto no público.

No elenco temos Michelle Yeoh (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings) fazendo a protagonista “Evelyn Wang”, Stephanie Hsu (Unbreakable Kimmy Schmidt) com o papel da filha “Joy Wang”, Ke Huy Quan (Indiana Jones and the Temple of Doom) como o marido “Waymond Wang”, James Hong (Blade Runner) interpretando o pai “Gong Gong” e a arrasadora participação de Jamie Lee Curtis (Knives Out) como a funcionária da Receita Federal. Todos com potência altíssima, até porque não é nada fácil interpretar várias versões das personagens de diferentes universos e todos com suas peculiaridades.

Evelyn é uma imigrante chinesa que tem uma lavanderia que está falindo, além disso enfrenta um divórcio e ainda conta com problemas com sua filha única. Em meio a uma reunião de ajustes de contas com a Receita Federal surge um chamado para uma missão muito importante e no meio disso descobre habilidades fantásticas.

A jornada de Evelyn é diferente das demais que assistimos frequentemente nos filmes, justamente por estarmos falando de uma obra com protagonismo feminino. Primeiro de tudo, existe uma quebra de ruptura com o patriarcado no sentido da tomada de consciência de que ela faz parte de uma estrutura de poder o qual ela não está no topo da hierarquia.

Portanto, percebe que para atingir seus objetivos existem uma série de impasses criados pelo seu pai e seu marido.

Não que seu marido e ela tenham conflitos, porém, dentro de seu relacionamento, a tomada de decisão e convencimento de atitudes já demonstra uma prática de exercício de poder. A edição deixa claro que ao decorrer dos anos, Evelyn passa a sentir a infelicidade depois de um tempo de casamento devido à monotonia dos dias na lavanderia e pela não aprovação de seu pai. 

Depois do rompimento, Evelyn se encontra num dilema, em salvar o multiverso ou declarar imposto de renda. Em meio ao caos constante das duas horas muito bem montadas, me pergunto se realmente o universo conspira sobre nós devido a alguma anomalia ou se são nossas boas ou más ações que estão se revoltando.

Podemos até colocar todos os seus problemas dentro de uma rosquinha, mas infelizmente ela não vai sustentar todas as mágoas e angústias que passamos. Também podemos ir embora, fugir  ou se afastar, mas no final de tudo, elas sempre voltam, nem que sejam a partir de uma lembrança, afinal, isso tudo faz parte do ciclo da vida.

Não vejo como problema resoluções com conversas experimentais, aliás, a equipe de design de produção arquiteta símbolos magistralmente criativos.

De contrastes melódicos das notas de Clair De Lune de Claude Debussy com os planos totalmente caóticos, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é um espetáculo visual frenético – uma montanha russa de efeitos práticos, lutas super bem coreografadas, ação, drama e humor na medida certa. Isso sim é um evento megalomaníaco aventuroso para pessoas fotossensíveis.

 

 

 

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COMO DESTRUIR UM CASAMENTO ?

 

 

 

 

 

VISÃO GERAL
Avaliação
Nathan Martins
Nascido no 5° dia do Século XXI, estudante de Produção Cultural na IFRJ, músico, amante de Tim Maia e crítico de cinema pela AIC do Rio de Janeiro. Uma vez fui designer, instrutor e também triangulista.
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