“Imagine não existir países, nada pelo que matar ou morrer e nenhuma religião também. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”. Mas, nos tempos de hoje, é mais fácil crer em um mundo que os Beatles tenham sido esquecidos do que na utopia de John Lennon.

Essa proposta maluca é a trama central de Yesterday, de Danny Boyle. O aspirante músico Jack Malik, após ser atropelado por um ônibus, acorda em um mundo que ninguém mais lembra quem foram os Beatles. Jack acaba se apoderando das suas músicas e se torna um ídolo mundial.
Desde o começo achei a premissa muito boba, mas fui seduzida pelo trailer divertido e pela voz deliciosa de Himesh Patel. Yesterday não foi a estreia do ator, mas foi seu maior trabalho comercial até o momento. Patel não tem apenas uma voz incrível, mas também é carismático e engraçado e consegue nos passar a angústia de ser um ídolo farsante.
A parte legal é que o filme não é bobo. É claro que não é uma obra prima que deve ser levada totalmente a sério: estamos falando de um mundo em que grandes ícones da cultura pop simplesmente nunca existiram. Mas Boyle soube trabalhar bem com esse roteiro inverossímil e transformá-lo em uma história interessante e até poética. Embora o tema central seja o legado esquecido dos Beatles, algumas temáticas paralelas são abordadas com um pouco de superficialidade, mas que dão um tom mais sério ao filme.
A linha tênue entre amor e amizade ganha destaque em vários momentos com Lily James roubando a cena. A descrença dos pais na carreia do filho também é abordada rapidamente. E, é claro, a comercialização da arte vira o tema central a partir do momento que Jack torna-se mundialmente famoso.
O que eu particularmente achei muito estranho, mas não soube confirmar se foi uma falha na cabine de imprensa, é que as músicas não foram legendadas. Cresci com pais fãs de Beatles e já conhecia todas as letras, então compreendi porque cada canção estava inserida em cada cena. A magia do musical está em casar uma música com o contexto, mas para isso, é necessário que o público entenda a letra. Se nas sessões comerciais, as músicas também não forem legendadas, acho que o filme acaba perdendo grande parte do seu encanto.
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Mas mesmo quem não for fanático pelos Beatles irá se divertir. O longa também conta com Ed Sheeran (o que me deixou um pouco confusa, seria Sheeran o substituto dos Beatles nos anos 2010?) e um elenco de rostos conhecidos.

Os maiores títulos dos Beatles foram preservados e ouvi-los na voz de Patel é uma das melhores partes do filme. Jack e Ellie também visitam os cenários que inspiraram os Beatles nas suas composições, como a Abby Road, os Strawberry Fields e a igreja de Eleanor Rigby.

Embora a premissa seja meio doida, o final é extremamente poético e tocante. No fundo, nos dá uma leve vontade de que os Beatles tivessem sido esquecidos e que o final da banda fosse mais próximo do universo paralelo de Yesterday.

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Como TARANTINO filma uma cena?

Estudou cinema na escola Cinema Nosso e é formado em Estudos de Mídia. Roteirista, futuro diretor e colecionar de HQ. É editor chefe do Canal Claquete. Odeia arrogância no cinema.