A frase de Stephen King sintetiza com excelência a temática abordada em It parte 2, sequência que finaliza a história baseada no livro homônimo do famoso escritor citado.

Lançado em 2017, It parte 1 foi sucesso de bilheteria graças a uma combinação de fatores positivos, como um elenco infantil competente e uma excelente trama adaptada de forma inteligente. Ao trazer a história para a década de 80 (originalmente ambientada nos anos 50), os roteiristas Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman aproveitaram o sucesso da “onda nostálgica” iniciada no ano anterior, com o lançamento da série da Netflix Stranger Things. Tal mudança trouxe frescor para a trama e a aproximou de diferentes espectadores, além dos conhecedores da obra de Stephen King e amantes do gênero.

Bill Hader, James McAvoy, Jay Ryan, Jessica Chastain, and Isaiah Mustafa in It Chapter Two (2019)

Diante do êxito da primeira produção, o diretor Andy Muschietti tinha o desafio de manter o mesmo nível na segunda e última parte, ambientada novamente na cidade de Derry, 27 anos após os fatos do filme anterior. Alguns dos conhecidos nomes escalados para dar vida ao “Grupo dos Perdedores” na fase adulta – Jessica Chastain, James McAvoy e Bill Hader – contribuíram para aumentar a ansiedade dos fãs e a responsabilidade de Muschietti.

E as expectativas foram atendidas, ainda que não da melhor forma possível. Fica nítido que a produção foi desenvolvida em boa parte para agradar aos desejos dos fãs – deixando a quantidade de “fanservices” excessiva ao longo da trama, remetendo inclusive à franquia Marvel.

Há também alguns problemas de ritmo, principalmente no segundo ato, onde havia espaço para o aprofundamento das tramas das personagens já adultas, mas o mesmo não é feito. A história neste ponto fica repetitiva e arrastada, e o filme com duração mais longa que o necessário.

James McAvoy and Luke Roessler in It Chapter Two (2019)

Aos olhos do expectador o sentimento é de que o diretor ficou “preso” ao filme anterior, usando um exagerado número de flashbacks, com grandes presenças dos atores infantis. O elenco adulto indiscutivelmente tem um potencial bem maior do que foi mostrado em tela, e merecia mais espaço.

It parte 1 é claramente superior à parte 2, mas isso não significa que a mesma seja ruim, pelo contrário, o saldo é positivo. O roteiro de Gary Dauberman destaca-se novamente, com a inclusão de plots que não estavam presentes na versão literária, mas que funcionaram muito bem na trama cinematográfica e no contexto atual. Os efeitos especiais também merecem destaque, mostrando ao espectador que o palhaço Pennywise também aprimorou seus sustos.

 

No que diz respeito ao elenco, a excepcional atuação de Bill Hader como Richie Tozier – interpretado por Finn Wolfhard na primeira parte – pode surpreender aos que esperam assistir a mais um brilhante trabalho de James McAvoy. Hader ofusca seus colegas de cena, mesmo que os outros executem ótimas atuações e tenham uma boa dinâmica como grupo.

Muschietti entrega uma ótima obra, ainda que à sombra de sua primeira parte. São raros os casos onde adaptações literárias transmitem com êxito a mensagem dos livros e It é um deles. Ambos os filmes da franquia são bons exemplos da excelente fase na qual o terror se encontra, com tramas psicológicas, complexas e muitas vezes políticas. Aos amantes do gênero, só nos resta acompanhar e agradecer.

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Como TARANTINO filma uma cena?

Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.