Vamos estabelecer aqui meu entendimento do que exatamente torna um filme da Marvel um legítimo “Filme da Marvel”. É fato o declínio da qualidade das produções e minha opinião particular é que isso só tende a piorar. A questão é que isso não importa — a “fórmula Marvel” não requer muito: piadas que vão perder a graça logo na segunda vez que for assistir, uma aparição especial por fanservice para atrair gritos e aplausos nas primeiras sessões e inserção (ou apenas insinuação de uma) de outros personagens dos quadrinhos para tornar o MCU uma franquia infinita.

Depois que não existem mais spoilers para serem vazados, o público vai esquecer que o filme ainda está no cinema e vai perceber que não era tão bom quanto achavam e foi prometido. E o processo se repete no lançamento seguinte. E eu gostei de Thor porque tem pouco do que foi citado.

O maior acerto de Taika Waititi é seu legado inserido em Thor: Ragnarok, do qual já ouvi reclamarem pelo mesmo motivo, mas é o fator principal para me fazer gostar dos filmes: o Thor bobão, protagonista que serve como o próprio alívio cômico da história e torna o filme uma grande piada. Não é algo ruim, já que os tais filmes de boneco são puramente entretenimento, então pelo menos que seja divertido.

Thor: Amor e Trovão é divertido e alucinante, uma experiência colorida, vibrante e com uma trilha sonora que vem da continuação dos Awesome Mixtapes de Guardiões da Galáxia, e tudo combina perfeitamente na continuidade do personagem, que virou membro da equipe depois dos acontecimentos de Vingadores: Ultimato.

Nessa nova aventura, Thor, Valkyria, agora rei (sim) de Nova Asgard e Jane Foster, que depois de ser esquecida na gaveta do Kevin Feige por nove anos (sua aparição em Ultimato foi por imagens de arquivo), finalmente se tornou a Poderosa Thor. Essa tinha potencial para ser o destaque do filme, mas se tem algo para qual Natalie Portman não serve, é a comédia.

Se não fosse seu arco do câncer e o Mjolnir a enfraquecer cada vez mais, seria uma personagem completamente desinteressante. Não posso julgar a atuação dela porque ninguém acreditaria se eu dissesse que Natalie Portman está ruim em um papel; de fato, não está. Mas existe uma fragilidade na sua inserção na história que me deixou com medo dela não servir para nada além de ser uma fraqueza para o eventual conflito moral do herói.

Eu gostei muito de ter sido ela a heroína com o conflito moral que pôs na balança sua própria vida e o destino de todos os deuses, ameaçados pela sede de vingança de Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que nesse filme tem uma motivação até bem justificada para acabar com todos eles.

Gorr, interpretado por um Christian Bale irreconhecível, busca vingança depois de perder sua filha para a miséria e, num encontro com seus deuses, descobrir que tudo foi em vão. É uma cena bem tosca, mas tocante, de um amor (e aqui pode-se relacionar esse amor com a paternidade e a própria fé) que se torna ódio e é, literalmente, engolido pelas trevas quando empunha a Necroespada.

Seus momentos engolem quase todas as cores, e mesmo assim o filme continua parecendo um teatrinho, só que um teatrinho que faz sentido. No final descobrimos que o “amor” do título tem um propósito num desfecho mais clichêzinho e fofo possível.

No geral, é um filme aproveitável. Não senti as horas passarem enquanto assistia, mesmo que isso fosse às custas de uma montagem corrida e cenas que acabam tão rápido quanto começam, mas exigir qualidade cinematográfica da Marvel já é abuso.

E mais: temos as migalhas LGBT+!

 

 

 

 

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ONDE A MARVEL ERROU ?

 

Formada no curso técnico em Produção de Áudio e Vídeo da FAETEC, bacharelanda em Cinema pela Estácio. Atriz, roteirista, dramaturga e a maior fã de Neil Gaiman a pisar nesta Terra.