O protagonista da história é Parvis Joon, um iraniano que busca fazer somente uma coisa: aproveitar a juventude. Ele passa o dia se envolvendo com outros homens  e a noite se divertindo com Banafshe e Amon (um garoto que esconde sua sexualidade dos outros).

Na noite de seu aniversário ele rouba uma bebida em uma discoteca e acaba pego. Por ser filho de iranianos exilados, é obrigado a fazer trabalhos comunitários em um centro de refugiados na Saxônia, Alemanha, onde vive. Lá, ele se apaixona por Amon, que fugiu do Irã com a irmã, Banafshe.

Faraz Shariat (direção e roteiro) opta por fotografar uma Alemanha melancólica com fortes tons de cinzas. Essa linguagem reforça uma dualidade presente entre os personagens. Se por um lado Amon quer retribuir o amor sentido por Parvis, pelo outro não quer ser visto com o rapaz (talvez por gostar de homens, talvez pela situação de Parvis). Já o protagonista, está em uma situação mais confortável no país: possui toda documentação necessária para viver em paz, mas não é visto como um igual pelos outros. Banafshe se mostra como uma mulher forte e segura, mas ao saber da iminente deportação que sofrerá é atingida por um forte desespero.

Mas outro detalhe que não pode ser ignorado é a forma como os personagens se encontram em diversos momentos do filme: sozinhos – fisicamente – com os amigos e sem a ajuda de ninguém. Duas cenas representam esses momentos.

Na primeira, dois funcionários do centro de refugiados são fotografados com roupas escuras e distantes dos garotos. A câmera em nenhum momento filma-os de forma conjunta e, por consequência, mantém a estética de distanciamento. Em uma segunda, um funcionário falseia um pretexto para ajudar Banafshe com uma condição: casar-se com ele. Proposta que se torna claramente abusiva.

Isso acontece pela forma que o filme busca retratar a solidão dos personagens. Parvis, por exemplo, não tem motivos para se queixar da própria situação no país, já que é muito mais confortável do que todos os outros. Não são coisas materiais que afligem Parvis. Sua mãe diz algo assim em uma cena: “nós demos de tudo para você”.

Em uma história semi-biográfica e vencedora do prêmio Teddy no Festival de Berlim, Shariat retrata como a desesperança atinge jovens exilados em um país que, por mais que seja de primeiro mundo, não é o deles. Por mais que um pedaço de papel diga que é a sua casa, dentro de nossos coração é a resposta que realmente importa. E a única forma de confrontar essa sensação é vivendo cada momento com aqueles que amamos.

O título do filme “Sem Ressentimentos” sugere uma sensação de tranquilidade e ausência de conflito. Mas isso é uma mentira. Há muito ressentimento com entre os exilados. Na ficção e na vida real.

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O TERROR SEMPRE FOI IGUAL?

Estudou cinema na escola Cinema Nosso e é formado em Estudos de Mídia. Roteirista, futuro diretor e colecionar de HQ. É editor chefe do Canal Claquete. Odeia arrogância no cinema.