O novo filme de Paul Greengrass traz uma sensação de eficiência em quase todos os aspectos. Já no início, vemos pela fresta da porta um homem com cicatrizes nas costas se vestir. A montagem de cortes rápidos cumpre bem a função rítmica de dar pressa à narrativa, e o filme é competente na tarefa de apresentação protagonista.

Sob uma luz âmbar sugerindo conforto e estabilidade no local, aprendemos que o homem é Capitão Jefferson Kidd (Tom Hanks) e que seu ofício é viajar de cidade em cidade a fim de ler em voz alta notícias e histórias para quem não sabia ler, ou para quem estivesse disposto a pagar algumas moedas. Aproveitando que a circulação de informações era difícil naquele Século XVII, ele segue viagem, sempre sozinho.

A trilha sonora de James Newton Howard é discreta, mas ganha corpo principalmente quando trabalha a tensão. Misturada ao olhar preocupado e temeroso que Hanks consegue imprimir ao Capitão Kidd, atinge o objetivo de deixar o espectador apreensivo.

Aliás, Tom Hanks faz novamente o papel de gente boa e o faz muito bem. Se eu tivesse que resolver alguma situação difícil, eu queria que ele fizesse um discurso edificante e me ajudasse. O ator brilha e sabe como utilizar uma expressão de dúvida e angústia, como se pudéssemos acompanhar o maquinar dos pensamentos do personagem antes de uma decisão.

Explorando a base temática do resultado da Guerra da Secessão e da formação de uma nação ancorada na segregação de indígenas e negros, Greengrass é econômico na direção, mas muito competente. Há nos primeiros minutos um movimento de travelling que vai sugerir a mudança de eixo daquele protagonista. É justamente quando ele encontra a criança Johanna (Helena Zengel) e se coloca na missão de devolvê-la para os tios, família de onde foi tirada a princípio.

O roteiro tem um quê de Hollywood Clássica e planta muito bem as pistas para deixar o espectador investido na história. Quem é e o que aconteceu com a esposa do Capitão? Pelo menos duas pessoas dizem que estrada que eles vão percorrer é perigosa. Mas perigosa como? O que vai acontecer? Johanna foi tirada de duas famílias, é certo devolvê-la aos tios que talvez nem a conheçam?

Se esses aspectos conquistam e envolvem, os efeitos visuais mais distraem do que ajudam. Em uma ótima sequência de ação conflituosa, ver uma pedra com gráficos de videogame descer ladeira abaixo parece uma decisão preguiçosa, assim como colorir digitalmente o céu nas cenas noturnas, que atinge um efeito estético estranho.

Nos últimos minutos, aquele mesmo travelling do início é feito quando Capitão Kidd toma outra decisão crucial, fazendo uma bonita rima visual e selando a relação entre Capitão Kidd e Johanna. O desenvolvimento desses dois personagens e como os traumas de cada um são atingidos pelas palavras e ações do outro é um dos pilares deste bom faroeste e road movie.

Se fosse uma história do Capitão, Relatos do Mundo seria considerada uma das mais pedidas pelo público. Não necessariamente profunda e marcante, mas boa de ouvir e imaginar.

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COMO CRIAR HEROÍSMO ?

VISÃO GERAL
Avaliação
Messias Adriano
Concluiu cursos ministrados por Pablo Villaça e o Curso Básico de Cinema da Casa Amarela (Universidade Federal do Ceará). Assiste muitos filmes, lê muito sobre cinema. Embora saiba que pra vencer importa mais campanha do que qualidade, sempre se empolga com temporadas de premiação.
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