Pieces of a Woman uma obra brutal. Sua introdução ousada — um plano sequência de quase meia hora de duração — é seu ponto forte. Funciona como um filme por si só, com começo, meio, ápice e um fim agressivo para um enredo que conquista pela simplicidade e invoca um realismo teatral, embora mais contido que uma apresentação nos palcos. Sob direção de Kornél Mundruczó, o texto de Kata Wéber — sua esposa, com quem compartilhou o trauma da perda de um filho — ganha potência ao mergulhar nos detalhes de um cinema confessional.
Vanessa Kirby como Martha Weiss é sublime. Sua performance é a epítome de uma loucura alimentada pela solidão de uma dor individual. Martha, cercada pela família, tem um sofrimento que é só dela, a acompanhando fielmente em sua jornada de processar o luto. Shia LaBeouf, por outro lado, é minimamente decente em um papel que não ganha tanto destaque quanto deveria. Depois desse “filme dentro do filme” que foi a sequência de um parto se tornando desastroso, o papel do pai que perdeu sua filha é ofuscado por um homem cultivando uma toxicidade até ser tirado por completo da vida da protagonista.
O erro do filme é se vender como uma batalha judicial da família contra a parteira, culpando-a pela morte da recém-nascida por negligência. Não é. Esse enredo é facilmente deixado para os últimos instantes em prol de explorar a agonia daqueles ao redor de Martha em buscar alguém em quem possam jogar a culpa — talvez menos como bode expiatório e mais como válvula de escape. Um caso notório de personagens que precisam urgentemente de terapia. No final de tudo, a narrativa expõe a fragilidade dos sentimentos e o medo humano de portá-lo, como uma cruz pesada demais para meros mortais carregarem. O papel de cada personagem ali é alimentar este ciclo vicioso.
No entanto, não é um filme sobre uma família tentando se encontrar no meio de uma tempestade. Dificilmente é uma história sobre o coletivo. Não é nem mesmo um filme sobre diferentes perspectivas de diferentes pessoas. Este filme é exclusivamente sobre Martha, a mulher em pedaços que, de forma literal, é quem perdeu uma parte de si. Qualquer outro é meramente um obstáculo emocional. Fundamentalmente simplista, é seguro dizer que é monótono no contexto da uniformidade da carga dramática que se torna invariável ao seu decorrer — tudo o que tem a crescer em questão de intensidade é resumido em seus trinta primeiros minutos.
Não é algo ruim, apenas uma proposta a ser seguida e que resulta em algo até mesmo imprevisível. Em meio à uma imensidão de detalhes que cativam pela sensibilidade de suas metáforas, é construída uma poesia por volta do puro motivo de termos nascido sem se aprofundar na ladainha do tal sentido da vida. Pieces of a Woman é essencialmente sobre se reconstruir.
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