Não há dúvidas que Chadwick Boseman deixou um enorme legado para as futuras gerações, quem viu o seu primeiro longa metragem como protagonista dentro do Universo Cinematográfico da Marvel sabe disso.

“Pantera Negra” de 2015 trouxe uma carga imensa de representatividade, referências à cultura afro e uma potência de identificação catártica especialmente para crianças e adolescentes negras que acompanham a cultura pop.

Tenho fé que um dia a produção de “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” será documentada e Ryan Coogler será premiado por aguentar a barra pesada que foi realizar esse filme. Acidentes no set, pandemia, adiamentos, roteiro reescrito…Realmente Coogler tinha um grande desafio em suas mãos e podemos dizer que sim, ele conseguiu segurar a peteca.

Digo isso com preocupação, pois, tem acontecido alguns deslizes nos últimos lançamentos da Marvel e isso já era de se esperar visto a quantidade de filmes e séries sequenciais feitas a modo industrial.

Logo, seria claro que algumas produções caíssem de qualidade. O que não é o caso aqui, mesmo com os conflitos e a responsabilidade pesada de fazer uma homenagem e despedida digna ao Chadwick  Boseman. Entretanto, acredito que a direção poderia se jogar e perder o medo de citar mais africanidades dentro do filme.

Dado o contexto da obra, seria de bom tom se apropriar da cultura afro e anexar por exemplo, a capoeira de Angola em cenas de luta, mais religiosidade e espiritualidade, rítmicas e melodias, enfim: menos América e mais África(s)

“Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” acima de tudo é um filme que fala sobre ciclos, ciclo da vida, da morte, do luto e isso se concretiza nos elementos que compõem o cinema, principalmente na hora de escrever os personagens.

A jornada Shuri demonstra a dualidade da sua racionalidade por ser cientista e de ceder e aceitar a espiritualidade para cumprir sua missão de assumir o manto do Pantera Negra. Conseguimos notar essas emoções pela presença da sua postura cética perante aos rituais seculares feitos pelos seus ancestrais e um certo medo de continuar o legado e não fazer jus ao que foi deixado por eles.

Letitia Wright entrega a melhor versão de sua personagem, o luto faz parte da sua caminhada e vemos que a fase que mais prevalece durante todo o longa é a raiva.  Shuri tem raiva por não ter conseguido salvar seu irmão da doença que o matou, raiva por estar sofrendo retaliação junto a sua mãe de outras nações e por isso sente uma vontade insana de “queimar tudo”.

A raiva e ódio são sentimentos não mobilizadores e não elevam nenhum sujeito a sua potência, é ruim para o indivíduo em si e péssimo para o coletivo. Podemos dizer que sim, Shuri, apesar de algumas digressões narrativas do roteiro, consegue extrair o seu máximo e entrega uma personagem tridimensional.

Ryan escreve bem os protagonismos das mulheres pretas presentes no longa. Temos a introdução de Riri Williams, a Coração de Ferro (Dominique Thorne) que tem uma presença enormemente cativante, Ramonda (Angela Bassett) também entrega uma grande carga emocional e Okoye e Nakia (Danai Gurira e Lupita Nyong’o) possuem uma importância crucial para o desenvolvimento da trama. Também temos Ayo e Aneka (Florence Kasumba e Michaela Coel) que tiveram uma duração nas telas considerável para despertar uma curiosidade sobre o que será feito com as personagens em futuros filmes

As apropriações seguem as do filme anterior, as influências da cultura do reino Axante e Daomé. Ryan pega justamente o fator que essas sociedades se destacam, que é a de serem potências anti imperialistas. Tanto Wakanda quanto Talocan refletem um estado de resistência perante ao imperialismo imposto pelos EUA e outros países que querem seus recursos.

O que difere as duas nações são as perspectivas estratégicas perante ao combate ao adversário, enquanto Wakanda pensa em autodefesa, Talocan pensa em ataque para se prevenir da exploração.

Namor (Tenoch Huerta) pode ter uma grande relevância nos próximos filmes do MCU, o objetivo do diretor foi transformá-lo em um anti-herói, e o seu arco justifica muito bem os atos. Diferente do filme anterior, fica perceptível olhando na primeira camada  que o vilão nem é tão vilão assim.

Como de costume, a Marvel está sempre preparando um terreno fértil para futuras produções incluindo personagens, no caso de agora, uma nova equipe de heróis mirins ou sidekicks. Por isso contamos com uma cena pós-créditos.

“Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” consegue surpreender e quebrar expectativas, está longe de ser o melhor filme do ano, mas com certeza estará no top 15  melhores filmes de super heróis de várias listas.

 

 

 

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ATUANDO COMO SUPER-HERÓI