Os Protetores do Planeta Terra, da diretora Anne de Carbuccia, é aquele tipo de filme que te faz assistir e depois ficar pensando sobre ele por horas a fio. É daqueles documentários que, mesmo com um começo meio lento e pessoal demais para mim, logo te pega de jeito e te leva para um mundo que é ao mesmo tempo lindo e cheio de desafios.
O filme brilha de verdade quando as pessoas contam suas histórias de vida e a conexão e interdependência com aquele ecossistema. Tem momentos que você se pega pensando “caramba, como deve ser viver num lugar assim?”. É essa mistura de admiração e um toque de realidade dura que faz a magia do filme. É sério, é relevante, e faz você pensar na vida de um jeito diferente, nas nossas ações do dia a dia.
Porém, o documentário não está isento de críticas, tropeçando às vezes ao observar outras culturas sob uma ótica excessivamente ocidental. E, sem querer, passa um ar meio “olha só o que eu sei fazer” que pode incomodar um pouco.
Mas quando a diretora começa a conversar com as pessoas pelo mundo, é impossível não se sentir tocado. Ver o contraste entre a vida dela e a dos outros é algo poderoso. E as imagens são carregadas de beleza e significados, como cenas de centenas de carros em estacionamentos gigantes e mulheres mexendo em montanhas de roupas em lixões a céu aberto. Que se justapõe de forma poderosa com as belezas naturais e abundantes da floresta amazônica, dos oceanos e das montanhas no Nepal.
O documentário também mostra Carbuccia tendo dificuldades para expor suas fotos, especialmente quando o assunto é refugiado, algo que muita gente prefere ignorar. Esse lado mais pessoal dela brigando para mostrar sua arte adiciona uma camada extra de profundidade ao filme. Entretanto, o impacto desse discurso é atenuado pela frequente e, por vezes, repetitiva ênfase no trabalho fotográfico da diretora
Mas e o final? Pensa num contra-ataque bem pensado. A Anne Carbuccia entra numa reflexão profunda, se perguntando se no futuro seremos lembrados pelo lixo que abandonamos. E aí, ela joga na roda uma autocritica sobre a pressão que as novas gerações estão sentindo para consertar os erros do passado. Mas é a forma que essa crítica é apresentada, por um jovem que compartilha essa crítica pertinente durante um dos workshops de Carbuccia em escolas. É um momento que faz você repensar muita coisa.
O documentário termina de forma coerente, honrando os temas explorados e reiterando a mensagem de que a mudança é possível – e necessária. A citação final de Carbuccia encapsula perfeitamente a essência do filme: uma convocação para que cada um de nós se torne uma força geológica positiva, capaz de alterar o destino do planeta através de nossas ações diárias. A consideração pelo impacto ambiental na produção do documentário é um testemunho do compromisso da diretora com as ideias que defende, servindo como um exemplo de como a indústria cinematográfica pode evoluir em direção a uma prática mais sustentável.
Os Protetores do Planeta Terra não é perfeito, mas é daqueles filmes que te fazem pensar, repensar e querer fazer alguma coisa pelo mundo. É um convite para recalcularmos a nossa rota, cheio de beleza, desafios, mas acima de tudo, esperança.
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