Tomado pelo sentimento de solidariedade inerente aos seres humanos, “dramas de tribunal” que mostram injustiças ocorridas no passado são um prato cheio pra aflorar emoções do espectador. Quando envolve uma multidão unida por um objetivo, então, aí é que a comoção tende a aumentar, o que também pode ser uma armadilha, caso não seja usado com cautela.
Escrito e dirigido por Aaron Sorkin, conhecido por seus roteiros verborrágicos, Os 7 de Chicago trata do julgamento de líderes de grupos progressistas que estavam sendo acusados de serem os culpados pela violência nos protestos em Chicago contra a Guerra do Vietnã em 1968, durante a Convenção Nacional Democrata.
O roteirista faz jus à fama. Com um início ágil, no qual todo personagem parece estar virado na cocaína, incapaz de parar de falar, Sorkin usa sua habilidade para contribuir que nós possamos entender uma única informação: aquele evento seria uma bomba prestes a explodir.
Somos apresentados ao lado antagonista também no começo, durante uma reunião de promotores montada em um plano/contra-plano tão rápido, que não dá tempo nem ouvir uma resposta sem que haja em média dois cortes no meio de cada fala. Sem freios, com todo mundo pensando rápido, todo mundo inteligente e com respostas na ponta da língua, aqui os diálogos botam um pezinho no maniqueísmo, ao mesmo tempo que o filme parece nos dar uma cutucada: “Ah, tá vendo esse Promotor Schultz (Gordon-Levitt) aqui? Ele é bonzinho, ok? OK?!“
Ok, entendido. Indo direto ao ponto, com dez minutos de filme já estamos no primeiro dia julgamento, sem saber direito o que ocorreu e sem ter um segundo de paz nos diálogos. Quantos nomes existem ali? São sete mesmo? Ali não tem mais que sete? Espera, quem é Hayden?
Para sorte do espectador, a habilidade do roteiro contorna bem esse tipo de dificuldade, seja pela dinâmica inicial do promotor, dando espaço para deixar mais claro quem é quem, seja pela exclusão de alguns personagens no decorrer da história. Tudo isso sem ficar chato ou repetitivo.
Sacha Baron Cohen interpreta Abbie Hoffman, representante da contracultura da época e funcionando como alívio cômico na trama. Por mais que tiradas sejam bobas e deslocadas algumas vezes, são eficazes na maior parte do tempo e o jeitão desleixado e pateta contribui pra construção de um arco mais sério ao final. Duvido alguém não rir depois do “protesto” que Abbie faz ao juiz quando o sobrenome dos dois vêm à tona.
Como um bom drama de tribunal, os dribles jurídicos e argumentativos brilham e cumprem muito bem o papel de dar tensão crescente, com adversidades que nos deixam apreensivos, pequenas vitórias que nos deixam felizes, ou testemunhas essenciais que aparecem só para nos deixar ansiosos.
Até que chegam os cinco minutos finais e, meu deus do céu. Um “discurso final vigoroso”, uma trilha sonora triunfal subindo e letreiros explicando o futuro de cada um. O que fizeram aqui? Se aquela reunião dos promotores tinha um pezinho no maniqueísmo, alguém deveria ter segurado as duas mãos e os dois pés de quem pensou em finalizar obra promissora com um gosto tão grande de sacarina. Uma pena.
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