A reconstituição do feminino, O Livro dos Prazeres de Marcela Lordy

“Eu preciso entender, que amar não é morrer.” Esta frase pronunciada por Lóri (Simone Spoladore) norteia, sucintamente, a premissa do filme. O Livro dos Prazeres, embora tenha sua origem na obra literária de Clarice Lispector, ganha vida e essência própria pela visão cinematográfica de Marcela Lordy. 

Lóri é uma mulher convicta em suas opiniões, porém reservada e solitária. Sua rotina se alterna entre o trabalho como professora do Ensino Fundamental e encontros furtivos para sexo casual. A vida da protagonista transcorre praticamente inerte, sem mergulhos sentimentais ou passionais. Contudo, a chegada do filósofo Ulisses (Javier Drolas) instiga Lóri, criando um desconforto interno da protagonista acerca de suas próprias atitudes e sentimentos.

Embora o livro de Clarice Lispector tenha sido escrito em 1969, seu argumento permanece contemporâneo e equiparado com grandes bilheterias do cinema mundial, tal como A Pior Pessoa do Mundo (2021), estrelado por Renate Reinsve e dirigido por Joachim Trier. Diferentemente do filme noruêgues, a obra cinematográfica brasileira trás nos bastidores olhares femininos na direção e produção. Deborah Osborn, produtora executiva do filme, revelou que o mais difícil foi a libertação do livro, o desprendimento na criação da obra audiovisual, e que muito foi recriado para que a história transcorresse de forma natural nos dias de hoje.

O Livro dos Prazeres é um filme de passagem, explorando a transformação e auto descoberta da protagonista. Com 12 anos de preparo desde o início do projeto, o olhar sensível da direção contempla o que podemos chamar de Cinema de Útero, assim definido pela atriz Simone Spoladore, acerca da reconstrução do feminino nas telas brasileiras.

A obra de Marcela Lordy explora o ordinário do dia a dia, valorizando o cotidiano e a dilatação do tempo nos cortes e planos. Outro fator interessante em termos de linguagem, é o uso do elemento água como vetor da transformação de Lóri. Colocando a protagonista como maleável, serena e também tempestuosa, o filme é repleto de significados e simbolismos que entram de forma passiva em quadro, porém ávidas no intelecto do espectador.

 

 

 

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