Em O Inocente conhecemos Mateo Vidal (Mario Casas) que após deixar a prisão por um crime acidental começa a reconstruir a própria vida. Porém, após receber uma mensagem será jogado em uma trama diabólica.
Em oito episódios, somos guiados por um universo que remete às características do noir (não há inocência ou otimismo). Grande parte do desenvolvimento da série é construída em um clima noturno. Da mesma forma como certos pontos chaves ocorrem durante a noite ou em uma fotografia fria.
O contraponto a esse clima de pessimismo é o protagonista. A composição do personagem de Mario Casas apresenta-se como um homem com grande dor. Tudo que sofreu na vida é representado pela pouca expressão com a própria face. Isso contribui para o sentimento de dúvida que a série cria nos primeiros episódios. Algo que o filme Um Contratempo buscou criar também (já já falaremos mais disso).
Harlan Coben, escritor do livro que dá origem a história, é a nova aquisição da Netflix. A empresa comprou os direitos de adaptação de alguns de seus trabalhos. O Inocente faz parte do conjunto transformado em live action.
Coben teve participação na série e escolheu Casas para o papel de Mateo. No elenco também está a atriz Ana Wagener (que interpreta Sônia). E adivinhe? Também esteve em Um Contratempo. Essa decisão só foi possível porque o escritor adorou o longa de Oriol Paulo. O mesmo do longa citado.
A escolha foi extremamente assertiva. Oriol Paulo revelou-se uma das grandes surpresas do suspense nos últimos anos. Todas as características em seus trabalhos anteriores estão na série. Mentiras, surpresas e tragédias são marcas que Paulo utiliza para que o thriller seja envolvente e focado em uma catarse no último ato.
E esse fator é visto, por exemplo, na montagem paralela. Se por um lado Shyamalan e Christopher Nolan usavam (e usam) esse recurso para gerar impacto quando entendemos a revelação do plot twist da história, Paulo segue a mesma cartilha, mas opta por filmar também as reações dos personagens quando estão próximos de descobrirem algo relevante.
É preciso pontuar que há um excesso de reviravoltas nos últimos episódios que prejudicam o espectador a absorver a sequência por completo. Para que um plot twist funcione é preciso que o expectador já esteja familiarizado com a cena anterior, do contrário a sensação transmitida é uma clipagem de surpresas.
Diferente do que foi feito em Um Contratempo, já que Oriol Paulo escreveu e dirigiu o longa e dosou a dimensão como cada reviravolta surge. Dando o tempo necessário para o espectador estar conectado com cada ação do personagem.
No entanto, a série apresenta uma trama envolvente que levanta perguntas pertinentes nos primeiros episódios para serem respondidas em seguida. Apresenta todos os elementos funcionais para que o thriller tenha ritmo e impacto.
Inocente é achar que alguém não ficaria no mínimo curioso com a resolução do caso.
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