Com o lançamento de A Bruxa em 2015, o diretor estadunidense Robert Eggers surpreendeu público e estudiosos do cinema de terror ao entregar uma “fábula” em tons monocromáticos, roteiro bem escrito e brilhantes atuações do elenco em cena (destacando-se a jovem Anya Taylor-Joy).
As críticas positivas à obra não se limitaram apenas aos pontos técnicos de seu terror folclórico, também ressaltaram a sensibilidade com a qual o diretor tratou o amadurecimento feminino, e a dinâmica tóxica presente em algumas relações familiares, fazendo o espectador questionar-se qual o real vilão da história.
Em 2019 chega aos cinemas O Farol, ousado projeto de Eggers protagonizado pelos atores Robert Pattinson e Willem Dafoe. Seu segundo longa-metragem é ambientado em uma ilha na Nova Inglaterra durante o século XIX e é centrado em dois marinheiros isolados em um farol. Além de abordar temas como masculinidade tóxica e isolamento em um roteiro de horror nada óbvio, o diretor deixa nítida a sua enorme dedicação aos processos de pesquisa de seus trabalhos, com diálogos em cena retirados de documentos da época, por exemplo.
Sendo assim, quando foi anunciado que o próximo filme de Robert Eggers teria como temática principal as mitologias e lendas nórdicas, a expectativa foi enorme. Expectativas essas que só aumentaram quando o elenco foi anunciado, trazendo nomes como: Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe e até mesmo a cantora Bjork (que não atuava desde a sua conhecida e traumática experiência em Dançando no Escuro, dirigido por Lars Von Trier).
A cada nova informação, ficava claro que O Homem do Norte, título dado à produção, não seria apenas o trabalho mais caro de Eggers, orçado em aproximadamente US $60.000.000, mas também o mais comercial até então.
Se alguns espectadores disseram “não compreender” as obras do diretor no passado, isso não ocorre em O Homem do Norte. Algum conhecimento de cultura nórdica sem dúvidas complementa a experiência, o que em tempos de produções como Ragnarok (Netflix), Game of Thrones (HBO), Vikings (Netflix) e Thor (MCU – Disney), além do sucesso do livro Mitologia Nórdica, escrito por Neil Gaiman, não é difícil.
Porém, ainda que a audiência nada saiba sobre Odin, as Valquírias ou a importância de Valhalla, a jornada de vingança apresentada se assemelha bastante às outras já contadas em demasia, e o roteiro bem fechado, sem pontas soltas, facilita a compreensão.
Então, o que diferencia O Homem do Norte de outras obras de mesma temática? Sem dúvidas, o detalhismo e a execução com a qual a história de Amleth (Skarsgård) é contada. A fotografia e os efeitos visuais do longa-metragem são excepcionais, em um trabalho que facilmente humilha a última temporada de Game of Thrones (HBO) – principalmente no que diz respeito a cenas envolvendo fogo e neve.
Novamente, Eggers emprega tons monocromáticos frios, mas pontualmente usando cores quentes, exaltando a violência em tela e contribuindo com a trama contada. A propósito, pode-se dizer que a direção de arte das obras do diretor, é uma das marcas e pontos mais altos de sua carreira.
A preparação do elenco também impressiona, com profissionais atuando em dialetos nórdicos antigos, incluindo cânticos e encantamentos. A química entre Skarsgård e Anya funciona bem em cena, além das poucas interações do personagem com sua mãe, interpretada pela atriz Nicole Kidman. Vale ressaltar que tal qual fez com Robert Pattinson em O Farol, Robert Eggers direciona a atuação de Alexander Skarsgård para outro patamar, impressionando até mesmo quem acompanha o trabalho do ator desde a já extinta série True Blood.
Os mais severos podem argumentar que O Homem do Norte é a obra mais comercial de Eggers – o que é verdade – e que o mesmo estaria se rendendo ao mercado internacional e perdendo parte de suas características como diretor. Entretanto, o filme parece uma nova forma do diretor contar uma história, e não necessariamente a redução de sua identidade. Inclusive, é fácil perceber ao longo dos 137 minutos de exibição, diversos elementos visuais e metáforas trazidas de suas obras anteriores, sendo “o corvo” talvez o exemplo mais óbvio.
Trata-se de um filme de fantasia, violento quando necessário, e com testosterona exalando da tela – características típicas de qualquer jornada viking que se preze. Outro excelente trabalho do diretor que entrega o proposto – ainda que não alcance a excelência que demonstrou em A Bruxa, inegavelmente.
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