O Estripador (The Ripper) é a nova minissérie documental da Netflix, que conta a história de Peter Sutcliffe, um serial killer que matou 13 mulheres de forma brutal na Inglaterra entre 1975 e 1980. Fazendo referência ao famoso assassino do final do século XIX, o homem ficou conhecido como o Estripador de Yorkshire. A produção possui 4 episódios e aborda os eventos desde a primeira morte até a condenação de Sutcliffe.
Antes de começar a análise em si, é preciso entender que todo produto audiovisual possui sua linguagem, inclusive uma minissérie documental. Em um caso como este, que trabalha com fatos, é compreensível o uso constante de imagens de arquivo e entrevistas. No entanto, o resultado parece um pouco preguiçoso. Não há muita preocupação com elementos estilísticos. A impressão é de que a montagem, a trilha, o uso das cores e os enquadramentos estariam em qualquer documentário genérico ou em alguma grande reportagem de um noticiário
nacional. O que é uma pena, pois o material é riquíssimo. Não faltavam possibilidades de caminhos narrativos. Mas trabalhamos com a realidade e não com o potencial.
Aliás, o potencial desperdiçado se encontra na própria construção da trama e seu foco. Demoramos muito para entender o que a série quer nos contar ao final dos 4 episódios: se é mais uma série voltada ao mistério da identidade de um serial killer, conhecer mais sobre o perfil das vítimas ou se está interessada em criticar o fracasso da polícia em desvendar os crimes.
Em todas as ações do Estripador de Yorkshire havia um claro viés misógino, sendo todas vítimas mulheres em situação de vulnerabilidade. Os assassinatos ocorriam à noite, perto de um local de prostituição na cidade. Assim, a equipe investigativa logo deduziu que se tratavam de prostitutas, o que o documentário revela como não sendo realidade. Mulheres de diferentes idades e profissões foram atacadas, mas, ainda assim, a polícia insistia em duvidar da moral das vítimas. Ou seja: não bastava a motivação machista do criminoso, a mídia e os investigadores perpetuavam a violência através do julgamento das mulheres. Neste momento, o documentário poderia se aprofundar muito mais em questões como a patriarcal e da cultura do estupro.
Em 4 episódios, isso esses temas são abordados de forma superficial por apenas uns 5 ou 10 minutos. Quando essa parte chega, ficamos entusiasmados assistindo. Queremos saber mais, pois é ali que a produção encontra sua maior força. Porém, esses tópicos (que só aparecem no terceiro episódio) se perdem e o viés muda.
Para quem gosta de histórias sobre crimes e está procurando algo para assistir, vá em frente. Talvez seja um pouco cansativo, pois o formato nunca muda (entrevistas – imagens de arquivos – mapa da cidade – entrevistas – imagens de arquivos e assim sucessivamente). Não traz nenhuma inovação, mas carrega reflexões importantes sobre o papel da mídia e das corporações – ainda que pudessem ser melhor exploradas.
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