Quem acompanha política no Brasil já ficará engatilhado com a citação inicial de O Culpado: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas não, não há nenhuma relação desse remake americano de um filme dinamarquês com as falas populistas do presidente brasileiro.
Com o título escrito em uma fonte que remete às clássicas tipografias de letreiros de jornais, O Culpado acompanha Joe Baylor (Gyllenhaal), um policial lotado em um centro de atendimento telefônico da polícia de Los Angeles. Uma ligação de uma mulher sequestrada por um ex-marido abusivo faz com que o protagonista dedique todos os esforços para resolver a situação, mesmo que seja obrigado a permanecer sempre no mesmo local.
Assim como o evidente bíceps de Jake Gyllenhaal explodindo na camisa, o ator interpreta um homem no limite, prestes a irromper em ataques de fúria. Afastado das ruas por conta de um problema ocorrido anteriormente, mas cujos detalhes são omitidos, o trabalho naquela chamada específica aumenta a pressão sofrida no personagem, visto que o desejo de agir diretamente para tentar resolver o crime é contraposto às limitações e à dependência dos colegas externos, cujo contato é restrito ao meio telefônico.
O ator é competente ao transparecer o desequilíbrio e nervosismo de Joe, como na cena cuja voz embargada de choro interrompe a tentativa de acalmar quem está do outro lado da linha.
Por se passar inteiramente dentro de um departamento de polícia, a fotografia encontra maneiras adequadas de mostrar o isolamento Joe Baylor, seja com a utilização do rack focus, que ressalta a concentração e falta de conexão do personagem com os colegas, seja ao compor o protagonista entre dois monitores, destacando a incapacidade de agir diante daquele cenário, ou ao enquadrá-lo diminuto, no canto inferior da tela e em plongée quando este tem os planos frustrados por conta de um erro cometido por si próprio.
Um dos trunfos de O Culpado é justamente trabalhar o extra-campo de maneira elaborada. Uma criança que chora ao telefone transmite a angústia somente pela voz e pelo que o espectador imagina. É a experiência de quem assiste que completará o drama da situação. O filme demonstra, até certo ponto, ter consciência desse poder e usa a impotência daquele homem como forma de afligir quem acompanha a história.
No entanto, a maneira mais direta e literal com a qual a culpa é abordada do meio pro fim é um dos pontos que traça a diferença entre o filme dinamarquês e o projeto americano. O roteiro opta por uma abordagem mais explícita quando, por exemplo, faz com que seu protagonista tenha de recorrer a uma bomba de asma com certa frequência, ou quando abandona a ambiguidade sobre os culpados por meio de uma confissão verbal.
O terço final filme, cuja tipografia do título poderia indicar discussões atuais acerca da proliferação de fake news e pré-julgamentos oriundos da rapidez das redes sociais, opta pelo caminho fácil e por abandonar aquilo que era sua maior força: o poder da sugestão.
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