O filme em questão surge como uma tentativa de reviver uma franquia que, desde 1994, ocupa um espaço relevante nos corações dos fãs do universo de “O Corvo”. Esse lugar da cultura pop já é bem conhecido, uma adaptação de uma clássica graphic novel já teve 4 filmes no cinema e por isso carrega um importante contexto que moldou o imaginário coletivo dos entusiastas.
Dessa vez, com um novo elenco e equipe criativa, incluindo um ator famoso (Bill Skarsgård) por ter interpretado o “palhaço assassino” e agora faz o “palhaço do inferno”, e um diretor (Rupert Sanders) com uma filmografia inconsistente.
Para mim, a expectativa era quase inexistente, durante os primeiros minutos do filme já estava pensando em comparações com a primeira adaptação de 1994 (o que é muito difícil não fazer). Ao passo em que, deixei – me levar pela narrativa para que pudesse aproveitar o tempo em que tinha na sessão.
Na trama, Eric e Shelly se conhecem em uma clínica de reabilitação, onde ambos tentam escapar de seus passados sombrios, e lá eles se apaixonam profundamente. Em uma tragédia, os dois são assassinados. Eric, então, faz um pacto sobrenatural que lhe concede habilidades especiais, lançando-o em uma missão de vingança contra os demônios de seu passado sombrio. No limiar entre o mundo dos vivos e dos mortos, o corvo traz justiça àqueles que não merecem a vida.
Cabe ressaltar ao leitor que minha parte irá dissertar sobre o filme em si e como essa nova releitura se debruça frente aos outros filmes, não irei fazer comparações com a obra originária dos quadrinhos do autor James O’Barr, visto que não tive contato com ela.
Uma questão a ser analisada aqui por princípio é como essa nova adaptação se compara à de 1994, que para mim, carregava um significado a mais por sua estética gótica e pela maneira como o lugar se tornava um personagem próprio, refletindo as relações de poder e as opressões existentes no ambiente.
Infelizmente, essa nova versão abandona grande parte desse tom e também faz algumas mudanças, o que pode desapontar muitas pessoas que estavam com uma grande expectativa. Não gosto muito de jogar a afirmação que “tal remake é feita para a nova geração”, pois ao meu ver um filme inserido no contexto de mercado busca o máximo de público possível para ir aos cinemas.
O fato é que o alvo parece focar muito mais nos resultados que seriam obtidos, apostando em cenas que podem gerar muitos cortes para redes sociais, o que perde bastante da profundidade e o clássico cult acaba se tornando melhor.
Temos violência? Sim, temos violência! Muita violência? Sim, é bem visceral! E sim, as construções de cena e soluções gráficas são impressionantes; mas conexão… Realmente é o que falta. Uma empatia e importância com os personagens é o que não deu para salvar. O que pode parecer contraditório, pois aqui temos um foco (ou tentativa) de saber sobre o passado de Shelly e Eric, mas acaba que não descobrimos tanto dos protagonistas e muito menos do vilão.
O que encapsula essa nova abordagem é a própria interpretação do protagonista, que, embora traz a sua performance e intensidade, ainda carrega o peso da sombra deixada por Brandon Lee. Esse tom que fica cambaleando da direção não sabe o que quer, e com certeza vai desaminar para aqueles que esperavam uma conexão mais forte com o original.
O que era uma história de amor, vingança, e perda virou algo mais para o amor, ódio e redenção. Existam cenas empolgantes, com sustos leves, mortes criativas estilo John Wick, protagonista trevoso, sangue na tela, e até alguns momentos ligeiramente cômicos. Entretanto o real ponto é que parece estar seguindo uma cartilha.
Levando – se em conta, é claro, que o cinema, por ser uma experiência coletiva, as reações do público moldam a percepção da obra. Temos a temática da dor, do luto e sofrimento, mas frente o clássico que mergulhava nas dinâmicas de poder em uma cidade chuvosa personificada, e que mostrava as mazelas da sociedade, esta versão fica na superficialidade.
O filme até que vale uma experiência do público, especialmente para aqueles que não estão tão apegados à versão de 1994. Embora seja um pouco expositivo e, às vezes, previsível, ele ainda consegue manter a atenção, com os efeitos especiais e lutas muito bem coreografadas. No fim, sinto que faltou cerca de uma hora de filme.
Este novo “O Corvo” não me desestabilizou da poltrona, mas topei a embarcada. Eu o colocaria na categoria de “Filme Pinterest”, quando a representação quer igualar a um estilo e faixa etária específica. Poderia haver um esforço maior em integrar seus personagens ao mundo em que vivem, até mesmo para entendermos melhor o contexto e universo. Do ponto de vista comercial é até entendido o porquê das decisões, mas credito que mexer com um legado pode não ter sido uma boa ideia.
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