O Charlatão, novo longa de Agnieszka Holland, é baseado na história do curandeiro Jan Mikolásek, interpretado por Ivan Trojan. O herbalista fez sucesso na antiga Checoslováquia, entre 1930 e 1950, auxiliando doentes através da análise de urina, receitando ervas, banhos e curas alternativas.

A narrativa constrói o protagonista de forma dramática e sensível. Ele consegue adivinhar se uma pessoa está perto de morrer só de olhar para ela e, por ser jardineiro, possui um grande conhecimento sobre plantas. Através de flashbacks (muitas vezes cansativos e explicativos demais), embarcamos na jornada de um simples Mikolásek até sua transformação em um curandeiro com muitas posses e dinheiro. Ele aprende a analisar a urina dos doentes com uma idosa requisitada na região. Ela não cobrava nada de ninguém e o alertou para fazer o mesmo, alegando que o dinheiro afasta as pessoas.

A partir deste ponto, entram algumas contradições na linguagem. Nos flashbacks, a direção de arte e fotografia apontam para cenas calorosas. Mikolásek é feliz cuidando de seu jardim e sabe que tem um dom. O primeiro ato conta com planos mais abertos e coloridos, atiçando a curiosidade do espectador. Quando o pseudo-médico cresce, ganha experiência e começa a cobrar consultas até dos mais pobres, os planos ficam mais escuros e fechados.

Tudo é frio. Sua vida atual é um inferno: perseguido pelo governo comunista, com acusações e prisão. No entanto, a narrativa reforça o vitimismo do personagem. Mesmo ele tendo escolhido o caminho aposto ao que sua mestra apontou, não há dúvidas de que a diretora não o enxerga como charlatão. O título é apenas uma ironia. Há uma resposta para todas as escolhas duvidosas de Mikolásek. Seus momentos de solidão, dúvidas ou discussões com outras pessoas, sempre são carregados de uma falsa emoção, com o intuito de comover o espectador e fazê-lo simpatizar com o curandeiro.

Na trama, ele nunca está errado. Nem quando a câmera passeia por sua mansão, mostrando estátuas e cômodos enormes enquanto há uma fila de pessoas pobres esperando por alguns minutos de sua atenção. Há, inclusive, close nas mãos de Mikolásek e, depois, close na estátua de Jesus Cristo, fazendo uma comparação um tanto quanto prepotente entre os dois.

O pior do filme é a sua propaganda simplória anti-comunista. Não por ser anti-comunista, mas por apresentar uma linguagem vazia e nada sutil. A diretora escolhe mostrar oficiais alemães aplaudindo e aprovando o dom de Mikolásek, enquanto mostra o governo soviético com “ingratidão” em relação a todo o bem que o herbalista proporcionou. Uma obra que, mesmo se tratando de uma história real, eleva a ficção a um nível com zero verossimilhança.

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