Mentiras, traições e terapia: “Nightmare Alley”, ou “O Beco do Pesadelo” é o novo filme do diretor mexicano Guillermo Del Toro, 5 anos após o seu grande e bem premiado sucesso: “A Forma da Água” (2017). O roteiro é escrito por ele ao lado de Kim Morgan, baseado em um livro de mesmo nome de William Lindsay Gresham. Essa é a segunda adaptação da obra literária,que teve seu primeiro lançamento em 1947, no formato preto e branco.

No longa, Bradley Cooper interpreta Stanton Carlisle, um homem com talento de manipular as pessoas com truques para ganhar dinheiro em espetáculos destinados à elite. Stanton desenvolveu essas habilidades em um circo de horrores no qual se apegou. Com ajuda de Pete (David Strathairn) e Zeena (Toni Collette), é neste mesmo lugar que ele conhece a Molly Cahill (Rooney Mara), a sua futura parceira romântica.

Após um tempo, ele conhece a psiquiatra Dra. Lilith Ritter (Cate Blanchett) e juntos passam a realizar golpes em pessoas com alto poder aquisitivo, porém, Stan mal sabe que ela é ainda mais perigosa que ele.

Particularmente, admiro muito os longas de Guillermo del Toro e inclusive tenho ‘’A forma da Água’’ como o meu favorito. Del Toro consegue trazer personagens preenchidos e possíveis de serem entendidos, seja seus objetivos ou dilemas internos. Em “A Forma da Água”, Guillermo entrega uma harmonia substancial e sofisticada no sentido de linguagem cinematográfica, com maestria e de maneira poética, porém, não consegue repetir isso em “O Beco do Pesadelo”. Fui assisti-lo sem expectativa alguma (não assisti ao trailer), sabendo bem pouco sobre o longa e confesso que queria ter gostado mais.

A começar pelo lapso narrativo no segundo ato, que deixa o filme arrastado e menos interessante. A introdução e o final são muito bons, no início é mostrado o festival e sua fantástica ambientação e o final até empolga, entretanto, até chegar neste ponto é bem cansativo.

Depois do primeiro plot, o desenrolar dos acontecimentos tornam-se monótonos e não apresentam nenhum tipo de embate relevante entre os personagens, não conseguindo apresentar, com virtude, as relações de poder e dominação entre os envolvidos. Se o filme propõe ser mais longo que a primeira adaptação, espera-se um pouco mais de profundidade e a culpa disso deve-se também a dificuldade de conexão entre o espectador e o protagonista.

De início, Leonardo diCaprio estava cotado para protagonizar o papel principal, mas por conflitos de agenda não pôde participar, supostamente por estar envolvido no filme “Killers of the Flower Moon”, de Martin Scorsese, então Bradley Cooper, (“Se Beber, Não Case!”) assumiu o projeto.

Com Cooper no papel principal, é possível identificar disparidades performáticas, principalmente quando está ao lado de Cate Blanchett (“O Senhor dos Anéis” e “Carol”) e Willem Dafoe (“Projeto Flórida” e “O Farol”), que tem uma participação no início do filme. Além disso, poderia dar mais subjetividade para a personagem Molly, que durante um tempo passa a ser apenas um par romântico para o protagonista.

O conteúdo do filme deixa a desejar, deixando confuso o que a direção quer transmitir para o público. Apesar de não haver necessidade de recortes políticos ou econômicos, todavia, reflexões morais e éticas tornam-se fundamentais.

O filme poderia entrar em caminhos sobrenaturais, (como se deve ou não brincar com o sobrenatural) mas o diretor buscou se afastar disso, contudo, se tivesse feito, tornaria interessante, já que esse é um de seus traços estilísticos mais fortes ou quem sabe refletir sobre quem é o ser selvagem e quem é o ser civilizado, mas pouco se fala sobre isso. Dessa forma, o filme acaba não divertindo e nem abalando emocionalmente.

O grande aspecto positivo e o ponto alto da obra é o design de produção, que realmente dá uma aula na técnica. Tamara Deverell, é a responsável pelo designer de produção, que buscou criar uma aura noir com cores, utilizando muito verde e dourado para construir os cenários e os figurinos.

Os objetos em cena se comunicam com a narrativa, como por exemplo, as aparições e foco nos espelhos, que representam as personas e os conflitos de identidade de Stanton. Provavelmente o filme deve ser indicado para áreas técnicas devido a sua sofisticação em criar ambientações fabulosas.

Por fim, faltam recortes, personagens com camadas e dinamismo em “Nightmare Alley”. Recomendo para aqueles que gostam de bizarrices e coisas sutilmente grotescas em thrillers. Como já havia dito, Guillermo del Toro é um dos meus diretores favoritos, defendo seu Hellboy com unhas e dentes e todo ano reassisto “Pacific Rim”, mas dessa última vez lamentavelmente não engatou.

 

 

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