O Baile das Loucas, novo longa da diretora francesa Mélanie Laurent, produzido e distribuído pela plataforma de streaming Amazon Prime Video em 2021, é um filme de época que aborda questões acerca da sanidade mental e espiritismo. Partindo desses temas, a diretora aborda de forma bem clássica o drama da protagonista, Eugénie (Lou de Laâge) que possui habilidades médium, colocando no centro da narrativa um apelo sentimental voltado ao pathos do público perante a ela, que julgada como louca, foi parar em um manicômio.

Entretanto, isso causa uma contradição, uma vez que o pathos é voltado para o fato da protagonista, sã, estar um manicômio, e não pela própria realidade manicomial: para as reais “loucas”, a empatia é pouco trabalhada. Nesse ponto, Laurent trabalha, inicialmente, a questão do manicômio em uma linha inseparável da protagonista, ela não está preocupada em denunciar o horror do hospital, mas em apontar que a sociedade europeia, através de um viés mecanicista, condenou os médiuns, especialmente as mulheres. Trata-se de uma caça às bruxas na idade contemporânea.

Vê-se que a diretora possui apreço por uma estrutura clássica de apresentação logo que a Eugénie chega ao local onde o filme se passará em sua maioria ao manicômio. Nesse momento, nos é apresentado aquelas personagens que farão parte da trama a partir de uma outra personagem, Louise (Lomane de Dietrich), que apresenta tais figuras à Eugénie e, consequentemente, ao público. Sabemos seus nomes e o motivo pelo qual elas estão ali, mas isso nunca é desenvolvido na trama, mesmo entre Louise, que têm consideravelmente mais tempo em tela que as demais personagens.

Temos, então, uma identificação restrita à personagem sã, não nos importamos que as outras personagens saiam do manicômio, mas que apenas ajudem a personagem principal a sair.

Há, também, uma dualidade muito abordada, desta vez entre a enfermeira chefe do hospital, Geneviève, interpretada pela própria diretora, e a própria Eugénie. Temos aqui um rebuscamento ao início da trama, onde vemos a protagonista em seu ambiente familiar, onde é sempre menosprezada em razão de sua personalidade forte, que entra em conflito com a de seu pai, o chefe da família. Existe, em Eugénie, uma passionalidade. O contrário acontece com Geneviève, enfermeira que sempre se apresenta de forma contida e obediente aos demais, e principalmente às figuras femininas.

Geneviève representa a indiferença, apatia. Tal dicotomia atinge ápice durante uma montagem paralela, onde vemos as duas personagens tirando partes de suas vestes, como o corpete, enquanto uma tira a peça violentamente, a outra o faz calmamente, com desinteresse. Dessa forma, Mélanie Laurent demonstra domínio do uso da linguagem cinematográfica para transpassar sensações, com construções sutis que desenrolam-se de forma suntuosa.

Não somente, percebe-se no cinema de Mélanie Laurent convenções que faltam à um cinema contemporâneo norte-americano, como o desenvolvimento de eventos a partir de planos longos e contemplativos que funcionem por si só, assim como a predileção por ações que se desenvolvam sem muitos cortes. O Baile das Loucas se apresenta perante ao espectador de forma sutil, sem diversos conflitos entrecruzados e é justamente por isso que consegue desenvolver tão bem o arco da personagem principal, desde sua relação com sua família até com algumas figuras do manicômio, gerando identificação.

No entanto, vê se um não aproveitamento de diversos temas e personagens que parecem servir apenas para estar no filme, não havendo tempo suficiente nas duas horas do longa para resolver todos os arcos narrativos, o que faz do filme ser confuso tanto no seu discurso quanto em sua forma.




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Avaliação
Ana Vitória
20 anos e rondoniense. Estuda Imagem e Som na UFSCar e é grande entusiasta de cinema vanguardista.
o-baile-das-loucas-critica O Baile das Loucas, novo longa da diretora francesa Mélanie Laurent, produzido e distribuído pela plataforma de streaming Amazon Prime Video em 2021, é um filme de época que aborda questões acerca da sanidade mental e espiritismo. Partindo desses temas, a diretora aborda de...