O que é o estado da “solitude”? Por que nós preferimos estar sozinhos? Evitamos o conflito do porquê estamos com medo?

“O Astronauta” de Johan Renck não consegue responder tais perguntas, até porque esse não é o papel da arte: trazer respostas para os problemas do cotidiano.

Entretanto, é capaz de nos deixar em um completo estado de atenção e por sua vez, em uma posição de vulnerabilidade. O lançamento da Netflix dessa semana é um drama introspectivo que tem por temática a ficção científica e elementos do suspense. E não é a primeira vez que a indústria faz um filme desse tipo. O título original “Spacemanˮ é uma adaptação de um romance de 2017 de mesmo nome escrito por Jaroslav Kalfař.

O diferencial desse filme é o ator principal: Adam Sandler. Sim, aquele mesmo da duologia “Gente Gandeˮ, “O Paizãoˮ e “Clickˮ. O contrato anual com a Netflix, que se apresenta como um  amontoado de comédias com a Jennifer Aniston,  fez com que Sandler se aventurar ao entregar, às vezes, papéis dramáticos, vide “Hustleˮ. O elenco conta também com Carey Mulligan (ˮDriveˮ),  Paul Dano (ˮPrisonersˮ), Kunal Nayyar (ˮThe Big Bang Theoryˮ) e Isabella Rossellini (ˮEnemyˮ) . Na produção, os destaques são: Ben Ormand (ˮThe Lovebirdsˮ) e Luca Borghese (ˮOkjaˮ e “Project Powerˮ).

Quanto ao filme em si, Jakub Prochazka é um astronauta que sai do nosso planeta para ingressar em uma viagem a Júpiter e investigar uma nuvem cósmica que pode ser vista a olho nu da Terra há 4 anos. O problema é que Jakub encara essa missão sozinho, deixando a sua mulher Lenka e seus planos de construção familiar para trás. O embate filosófico que temos é que Jakub carrega em sua jornada essa solidão imensa ao sentir saudades de uma companhia no meio de um isolamento espacial.

Paul Dano (que não apanha nesse filme) dá a voz a Hanus, a “aranha cósmica giganteˮ que invade e habita na nave, surge como uma parceria. A aranha tem diferentes simbolismos em culturas diversas e aqui, acredito que vejo uma aproximação àquela que fala sobre a conexão de tudo e todas as coisas do universo. Hanus faz uma espécie de conexão do espaço com a Terra ao acessar as memórias de Jakub. De forma que aqui Hanus é uma criatura real, e isso irá depender de uma interpretação de cada um.

Não ironicamente, qualquer semelhança com ‘’Interestellar’’ não é mera coincidência, e que em minha perspectiva não é nenhum problema, pois “O Astronautaˮ poderia entregar uma nova perspectiva. Temos visões de direção e projeções de futuro diferentes, quando as corporações financiam viagens espaciais e viajantes viram “garotos-propagandaˮ de marcas. Isso não significa que Johan Renck esteja fugindo do aceleracionismo de Nolan, e assim a obra ficaria perfeita, muito pelo contrário. Apesar de ter entendido a proposta narrativa, a fotografia ficou um pouco cansativa, e ela e o texto deixaram a desejar e  consequentemente as atuações secundárias não marcaram a devida presença.

Os à parte são uma ‘’segunda-feira’’ em produções estadunidenses e figurinha carimbada no catálogo da Netflix. O problema nem é o “clichêˮ (o que também não é um problema) dos temas abordados, até porque são questionamentos que rodeiam a vida humana e fazem parte da nossa caminhada.

A opção de estar sozinho vem a partir de um medo do protagonista de seguir o que o universo tinha proposto para ele que seria de cair no mesmo “pecadoˮ que o pai. Mas esse medo mais parece uma procrastinação em que Jakub se encontra, uma síndrome de impostor em não saber lidar bem na paternidade. Isso se confirma ao demonstrar-se como um marido ausente.

Por fim, “O Astronautaˮ poderia ser uma surpresa, a expectativa era de um “Embriagado de Amorˮ ou “Uncut Gemsˮ, mas somente o visual bonito não segura essa peteca.

 

Edição e revisão por Anna Beatriz.

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NOLAN ODEIA MULHERES ?