Morte no Nilo, adaptação cinematográfica da obra literária homônima da mundialmente reconhecida escritora inglesa Agatha Christie, chega aos cinemas brasileiros após muitos adiamentos – o mesmo tinha estreia prevista para dezembro de 2019 – e traz  um grande elenco conhecido não apenas por seu trabalho, mas também por suas polêmicas.

Assim como na adaptação de outro aclamado livro da autora, Assassinato no Expresso do Oriente, de 2017, o ator, diretor e roteirista nascido na Irlanda do Norte, Kenneth Branagh é responsável pela direção e produção do longa-metragem, além de atuar em ambos os filmes como o famoso detetive Hercule Poirot – personagem recorrente nas tramas de suspense da autora.

O processo de adaptação de obras literárias para o cinema não é algo simples. Quando as histórias em questão são centradas no conhecido plot “Quem matou?” e envolvem um enorme volume de personagens e subtramas, conhecida característica da escrita da autora inglesa, há o risco do audiovisual não ser capaz de desenvolver de forma satisfatória em tela o suspense presente nas páginas impressas. Se em Assassinato no Expresso do Oriente o diretor entrega um filme confuso em diversos momentos, com Morte no Nilo há uma clara questão de falta de sincronia no ritmo dos acontecimentos, o que deixa a obra enfadonha em seus primeiros dois atos e exageradamente acelerada em sua conclusão. É justo dizer que a história em sua versão escrita também demora a se desenrolar mas, uma vez adaptada para a tela grande, poderia ter sido melhor trabalhada já que há uma grande diferença entre o ritmo do cinema e o da literatura.

Em Morte no Nilo revisitamos o detetive belga Hercule Poirot, desta vez de férias em um glamoroso cruzeiro pelas águas do Rio Nilo, no Egito, quando um assassinato interrompe não apenas o seu lazer mas também a lua de mel de um conhecido e invejado casal. Gal Gadot e Armie Hammer interpretam o casal principal Linnet e Simon. Também estão presentes na trama Ali Fazal, Tom Bateman, Letitia Wright, Annette Bening, Russell Brand (surpreendendo em um papel mais sério), Rose Leslie e Emma Mackey – mostrando que seu talento não se atém apenas à brilhante série Sex Education, na qual interpreta a jovem Maeve.

Enquanto o nome de Letitia Wright tornou-se conhecido não apenas por seu trabalho em Pantera Negra, mas também por declarar-se contra à vacina em meio a pandemia de Covid-19 (o que colocou inclusive sua presença na sequência da Marvel em risco), Armie Hammer passou de galã desejado à “cancelado” após acusações de estupro e fantasias com canibalismo virem à público. Já o conhecido passado militar da atriz israelense Gal Gadot “barrou” a exibição do filme em países que atualmente estão em conflito com Israel, como Líbano e Kuwait. Sem dúvidas tais polêmicas tornaram-se grandes dores de cabeça para a distribuidora e podem afetar a bilheteria do longa.

Infelizmente, Morte no Nilo é um longa-metragem que chama mais atenção pelas polêmicas nas quais os atores e atrizes em cena estão envolvidos do que pelo trabalho que apresenta. Kenneth Branagh entrega uma produção de 127 minutos que poderia ter, ao menos, 20 minutos retirados de sua exibição ou uma montagem mais linear, apresentando o desfecho de forma ordenada e mantendo o suspense característico das obras de Agatha Christie até o final, que lastimavelmente parece ser jogado às pressas à audiência.

Novamente, uma adaptação da magnífica obra da autora que deixa a desejar.

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Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.