Um grupo de jovens curiosos e irresponsáveis embarca em uma viagem para a Europa e chegando lá as coisas não saem exatamente como o esperado. Essa história já foi contada muitas outras vezes no terror, mas não da forma inovadora feita no novo filme de Ari Aster, Midsommar. Após o sucesso de Hereditário (2018), o diretor tinha o desafio de manter a boa qualidade de sua obra anterior, o que conseguiu com êxito, superando-a.

E o que torna a produção sueca diferente? Somados à conhecida fórmula do gênero, há uma fotografia que parece ter saído de As Pequenas Margaridas (1966), da diretora Vera Chytilová, e uma direção de arte impecável. Ambas exacerbam o horror do que está sendo mostrado, pois é possível o espectador assistir cenas esteticamente belíssimas, ainda que com órgãos humanos expostos e flores em destaque – afirmando um dos argumentos principais da obra, que é o terror acontecendo à luz do dia, em meio a um cenário idílico e terno.

 

Base de uma das muitas camadas expostas no filme, os primeiros minutos de exibição, anteriores inclusive à apresentação do título em tela, mostram uma das sequências mais chocantes do cinema desde a exibida em o Anticristo (2009) de Lars Von Trier. Neles, e no restante da obra, a trilha sonora tem um papel notável, tornando palpável e complementando o que está sendo mostrado ao espectador, atuando inteligentemente ao usar momentos de silêncio completo em cena ou o volume do áudio dos atores. Ruy García, responsável também por Roma (2018), se sobressai novamente.

Jack Reynor and Florence Pugh in Midsommar (2019)

Apesar do gênero, o roteiro é costurado através de uma premissa bastante sensível, englobando questões como depressão, empatia e a necessidade de pertencimento. Todo o drama vivido pela protagonista Dani (Florence Pugh, excelente no papel) e a falta de empatia de seu namorado e amigos para com ela, provoca no espectador automaticamente a necessidade de protegê-la, ao mesmo tempo em que elimina qualquer tipo de apreço para com as outras personagens.

E, tendo conhecimento do contexto em que Ari Aster escreveu o roteiro – ele havia acabado de sofrer um término de relacionamento doloroso – é possível compreender a maestria com que a solidão de Dani é mostrada. Aqui, o áudio mais uma vez merece destaque, abafando os diálogos do entorno mesmo quando a jovem está cercada de pessoas, explicitando o seu isolamento.

Ainda que possua recursos gráficos em demasia, com cenas ora muito violentas, ora tão absurdas que despertam gargalhadas nervosas na plateia, o que chama atenção na obra é sua temática simples: a necessidade do ser humano de acolhimento, de pertencimento. Todos buscamos pessoas com as quais possamos partilhar nossas alegrias e dores, precisamos nos sentir parte de algo ou grupo.

Quando não possuímos este apoio em nosso entorno ou família, a solidão nos deixa vulneráveis, tornando factíveis conexões antes impossíveis que possam até mesmo ir contra nossa ética ou moral. Com Midsommar, novamente Ari Aster executa uma obra de terror embasada em situações psicológicas reais, elevando o gênero a outro nível, para o deleite dos fãs.

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Como TARANTINO filma uma cena?

Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.