O coming of age no cinema faz parte de um vertente narrativa que busca retratar o amadurecimento dos personagens, direcionando-os à vida adulta. Em Memórias de Verão, filme turco de 2021, dirigido por Ozan Açıktan, acompanhamos Deniz (Fatih Şahin), um adolescente de 16 anos em suas férias de verão.
O filme demonstra esse episódio da vida do personagem de forma a ressaltar as tramas do amadurecimento, partindo de uma abordagem subjetiva, a obra demonstra o mundo partindo dos olhos de Deniz, de uma realidade que preza por essa perspectiva. Temos, aqui, o alvorecer da paixão, direcionada aqui à Asli (Ece Çeşmioğlu), colega de infância de Deniz, representada em tela a partir de um ideal contemplativo de amor de verão.
Percebe-se, aqui, uma grande influência do cinema europeu como no longa Me Chame Pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino e, principalmente da série de filmes Comédias e Provérbios, de Éric Rohmer. Influência essa que se expressa tanto no apreço pela questão juvenil, quanto pela própria forma de apresentar ao espectador uma pequena parcela da vida daqueles personagens, como as férias de verão.
Não somente, o realizador de Memórias de Verão, exprime também a influência que tais autores tiveram em seu longa a partir de aspectos estéticos, como a valorização de cenários naturais e uma prevalência de tons azul/esverdeado. Ozan preza também pelas relações pessoais que, marcadas por uma estética naturalista, privilegiam a utilização de planos mais abertos e longos.
O apelo pela subjetividade e perspectiva do protagonista pode ser muito bem observado no triângulo amoroso presente na obra: o desejo e o ciúmes são primordiais nessa relação, são os planos do ponto de vista do protagonista que revelam o sentimento e a relação do personagem em relação aos acontecimentos. Deniz e Asli nutrem uma relação que se assemelha ao fraternal, de forma que o desejo de Deniz é nítido para o espectador onisciente, mas invisível para aqueles que estão dentro da diegese, assim como é notório o desconforto de Deniz, para o espectador, no tocante à relação Burak (Halit Özgür Sarı) com Asli.
Memórias de Verão apresenta ser diferencial no que diz respeito a coming of ages usuais e grande parte disso se deve à valorização de uma estética que foge da norma hollywoodiana de representação da adolescência. A narrativa possui seus momentos calmos, assim como é carregada de momentos de agitação, no entanto, percebe-se em ambas as formas representativas um ideal contemplativo que sempre parte em sentido de Asli, isto é, seja no ambiente doméstico, em festas ou até mesmo na praia a atenção do protagonista e, consequentemente do espectador, está sempre voltada para Asli.
O relacionamento de veraneio, como já demonstrado por Rohmer e Guadagnino, possui data de validade e, nesse caso, em que não há diretamente um relacionamento amoroso concreto entre os Deniz e Asli, a contemplação tem data marcada para acabar, sem mais resoluções. Os encontros dos protagonistas acaba juntamente com o verão, simbolizando também uma passagem de amadurecimento, uma vez que o fim das férias marca também o início de responsabilidades adultas, como a faculdade. No fim, Deniz, assim como Elio ao final de Me Chame Pelo Seu Nome, retorna ao seu cotidiano normal, deixando Asli, o ambiente praiano e o ato de admiração para trás.
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