Estreia dia 20 de fevereiro o novo longa-metragem dirigido por Oz Perkins, Maria & João, O Conto das Bruxas. A obra aborda o mundialmente conhecido conto dos irmãos Grimm através de uma nova ótica, trazendo ares de “coming-of-age” a trama – conforme dito pelo próprio diretor em entrevista à Entertainment Weekly. Algo também declarado e perceptível ao longo da exibição, é o fato de o filme A Bruxa, de Robert Eggers, ser uma inspiração para a obra.

Ao compararmos Maria & João à última produção do diretor, O Último Capítulo (2016- disponível na Netflix), é possível encontrarmos muitas semelhanças. Ambas as produções possuem uma fotografia exemplar com imagens que parecem ilustrações retiradas de livros, uma paleta de cores em tons terrosos que constrói uma estética belíssima e a presença de poucos atores em cena, onde se destaca o protagonismo feminino no centro das histórias.

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Mas, infelizmente, as similaridades não se atêm somente aos pontos positivos. O empenho estético perceptível em tela, definitivamente não é encontrado em seus roteiros. Há um número excessivo de pontas soltas nas tramas, o ritmo diversas vezes ultrapassa a tênue barreira entre lento e tedioso, e as conclusões dialogam de forma superficial com a trama desenvolvida nos primeiros atos. Apesar do espaço de aproximadamente quatro anos entre as produções, há pouco amadurecimento por parte do diretor entre elas.

Maria & João, O Conto das Bruxas possui um elenco com atuações excelentes, com destaque para Sophia Lillis da franquia It – A Coisa que interpreta Maria, e Alice Krige como a bruxa Holda – vista recentemente na série de fantasia, Carnival Row. Produzido por Fred Berger e Jason Cloth, o filme traz o protagonismo feminino e o discurso de empoderamento muito presentes, algo claramente explorado já na inversão de nomes do título.

Entretanto, o roteiro de Rob Hayes desenvolve a temática de forma pouco orgânica, onde “frases de efeito” são utilizadas de forma superficial em diálogos quase sem sentido, perdendo seu propósito.

Há potencial e valor na escolha por esta abordagem, mas perde-se o foco. A conclusão da trama acaba entrando em conflito com o desenvolvimento da história e as premissas ali levantadas, deixando no espectador a sensação de que o final apresentado não era o ideal – até mesmo para os responsáveis pelo filme.

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Há também um claro excesso de simbologias, mitologias e referências em tela, gerando uma desordem que faz com que as mesmas se percam ao decorrer da trama. É possível notar referências a mais de um conto infantil, diversas figuras fantásticas em tela, símbolos, citações e nada evolui ou é explorado de maneira satisfatória ao longo da exibição.

Até mesmo a mitologia básica do conto original não é concluída de forma clara. Tais “furos” comprometem a qualidade da obra, deixando o inevitável sentimento de que algo mais simples e bem desenvolvido possivelmente teria sido uma opção melhor.

Ao término da exibição a sensação que fica para o espectador é que o mesmo acabou de assistir algo lindo visualmente, mas com um misto de frustração ao ver uma conhecida história contada superficialmente e com fragmentos que não se encaixam. Há um claro potencial inexplorado de sobra em Maria & João, mas infelizmente as escolhas de roteiro e direção entregaram um conjunto final “a desejar”.

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Qual a semelhança entre CORINGA, CHAPLIN E SCORSESE?

 

 

Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.