Pedro Almodóvar é um diretor que pode se gabar de ser reconhecido por ter estilo próprio. As técnicas particulares de utilização das cores fortes, dramas rasgados da classe média, sexo e suspense se repetem nas obras do cineasta e tornam fácil a identificação se você consome ou trabalha com cinema (exceto se você for o Tom Holland e não souber quem é Pedro Almodóvar).
Em Mães Paralelas, acompanhamos Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit) iniciarem uma conexão, desde quando dividem um quarto na maternidade, até terem suas vidas marcadas pelas coincidências que a vida traz.
O refinamento estético das “cores de Almodóvar” está presente.
Janis toma como própria a cor vermelha quando utiliza em momentos diferentes uma blusa vermelha, uma capinha de celular vermelha ou um caderno de anotações vermelho.
Em oposição, a falta de cor representa momentos de conflito ou que destoam das emoções ligadas aos filhos: quando a mãe de Ana entra no quarto do hospital, fala da própria vida, das oportunidades que está ganhando como atriz e deixa pra perguntar por último como estão os bebês, a parede atrás da personagem é cinza.
No quarto de hotel de Arturo, quando este lança um questionamento importante e que dispara um sentimento negativo em Janis, todas as paredes do quarto são cinza e Janis está de terninho preto e branco. Por fim, quando Ana leva algo importante de Janis, este “algo” está também tomado pela cor vermelha enquanto Janis, triste, veste um moletom cinza.
O diretor também compreende como mover a câmera para ajudar a contar a história. Quando há uma conversa tensa entre Janis e Arturo, por exemplo, Almodóvar solta a câmera e a faz flutuar um pouco mais inclinada apenas para, no momento em que as duas pessoas se entendem, o plano se ajustar. É o tipo de detalhe que dura não mais que breves segundos, mas o suficiente pra ressaltar o esmero com o qual o diretor comanda seus filmes.
Se há um “porém”, este se dá no terço final da obra, quando o roteiro começa a verbalizar imagens que já estamos vendo: Ana lê o nome dela no exame, nós vemos o nome dela na tela e ela diz: “Mas Ana sou eu!”. O arqueólogo acha um chocalho citado há cinco minutos, nós vemos o chocalho e ele diz: “Olha… O chocalho.” Tal qual Janis recusando usar um crânio no ensaio fotográfico de um arqueólogo por ser “óbvio demais”, talvez essas passagens merecessem um melhor polimento.
O que não tira o brilho de uma obra que usa paralelismos entre a Guerra Civil Espanhola, laços familiares, conexões sanguíneas e registros documentais (sejam eles escritos ou fotográficos) como parte de um resgate histórico necessário para fechar ciclos emocionais. Afinal, como prova o último plano do filme, somos todos parte de uma grande história da humanidade, sendo nossa responsabilidade compreender o passado para tornar o futuro um pouco menos pior.
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