Um filme com um título desses já premedita que não será um padrão narrativo hollywoodiano. Num roteiro clássico dos estúdios norte-americanos, o personagem precisa encarar diversos pontos de virada e clímax para que a história se desenvolva. Radu Jadu quebra essa engrenagem, e nos apresenta uma narrativa revolucionária.

Agradando a gostos excêntricos ou curiosos por novas linguagens, Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental é um filme multimeios. Dividido em capítulos e iniciado com um vídeo pornô caseiro feito pela protagonista e seu marido, cai rapidamente na internet. Isso faz com que Emi (Katia Pascariu), uma professora de história do Ensino Fundamental, tenha sua intimidade violada e exposta aos olhos de seus alunos. Isso gera uma reviravolta em seu trabalho e relações próximas. Ainda mais na sociedade romena, essencialmente patriarcal.

O mais curioso da obra, vencedora do Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim de 2021, dentre outros prêmios, é sua revolução narrativa. Além da divisão em partes intituladas, formato este já explorado por diretores cults, Radu Jadu inova na linguagem a cada avanço do filme.

Primeiramente uma sex tape gravada com celular, apresenta ao público o que todos já assistiram no contexto do filme. Já na segunda parte, a câmera se transforma em um voyeur que acompanha cronologicamente Emi pelas ruas caóticas e envelhecidas da Romênia. Nesta parte, o diretor opta por dilatar a caminhada da protagonista exemplificando imageticamente o seu sofrimento e julgamento alheio através de longos enquadramentos do cenário urbano.

Ao fim da caminhada de Emi, Radu Jadu não se contenta com os enquadramentos subjetivos e começa uma nova parte em seu filme, porém desta vez mais lírica do que todas as outras. Por meio de imagens e legendas, o roteirista e diretor do filme explora os sensos comuns e mazelas da sociedade romena. Ele prepara o espectador para o ato que virá em seguida, o tão esperado encontro da professora com a direção escolar e os pais dos alunos de sua turma. 

A reunião de pais é um dos momentos altos do filme, onde tudo o que foi apresentado ao espectador entra em choque e discussão através dos personagens. Porém, não seria o cinema de Radu Jadu se não tivesse uma pegada lúdica e cômica. O final do filme, referenciou às produções de Monty Python, um humor europeu ácido e crítico que traz risadas inesperadas, fugindo da estrutura clássica narrativa mais uma vez.

Uma obra cinematográfica fora da caixa para os amantes cults e para os investigadores de novas possibilidades da sétima arte. O filme será exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Confira os textos sobre alguns filmes da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo: AQUI

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