M8, Quando a Morte Socorre a Vida | Crítica

Dirigido por Jeferson De, o longa nacional “M8, Quando a morte socorre a vida” conta a história de Maurício, interpretado por Juan Paiva (aclamado em Malhação – Viva a Diferença). Morador do subúrbio do Rio de Janeiro, umbandista e filho de uma auxiliar de enfermagem, a personagem desenvolve uma relação peculiar com o cadáver que lhe é designado em seu primeiro dia de aula, M8 (Raphael Logam).

Com roteiro assinado também por Jeferson De em colaboração com Felipe Sholl e Carolina Castro, a história é adaptada do livro homônimo de Salomão Polakiewicz. Único negro de sua turma no concorrido curso de medicina, Maurício se identifica mais com os cadáveres estudados – em sua maioria homens negros – do que com seus colegas de classe, brancos e de situações econômicas privilegiadas, sentimento explicitado em sua fala que dá título a este texto.

A discussão central do filme é a questão racial, e durante os 84 minutos de exibição é possível identificar homenagens feitas a figuras importantes na luta pela igualdade, como o grafite de Marielle Franco próximo à residência de Maurício, e o nome da premiada escritora Conceição Evaristo citado entre as falas. Como não poderia deixar de ser em uma produção desta temática, tópicos como meritocracia, cotas, abordagem policial e relacionamento inter-racial são abordados no enredo, focado nos dilemas e dificuldades impostos ao jovem negro e periférico no cotidiano.

M8 abusa de clichês de filmes de mesmo assunto como a sequência que retrata a violenta abordagem policial, ou o colega de classe que faz questão de frisar a desigualdade entre Maurício e os demais. O espectador assiste ao início da sequência já sabendo qual será o seu desdobramento. Porém, a repetição destes chavões segue fundamental, pois reflete um padrão de comportamento da sociedade e sua urgente necessidade de mudança.

Na semana do feriado da Consciência Negra – 20 de novembro, próxima sexta-feira – o caso do gerente negro de uma loja de eletroeletrônicos e vítima de racismo ganhou as redes sociais não apenas pelo episódio sofrido, mas também pela homenagem e solidariedade de seus colegas. Assim, fica claro que nenhuma cena que possa ser considerada lugar-comum é utilizada em demasia.

Apesar da abordagem atual, o filme possui seus problemas. A atuação de Juan Paiva começa muito bem, mas perde qualidade e torna-se forçada nas situações de revolta e raiva do 3º ato, destacando-se a cena em que Maurício é confrontado pela mãe. A produção se situa no Rio de Janeiro e apresenta diversos bairros e paisagens da cidade, mas tem grande parte do elenco com sotaque paulistano, o que chama excessiva atenção do espectador para este elemento que poderia ter sido mais bem trabalhado.

A adaptação de Jeferson De entrega um final emocionante, catártico e belamente fotografado. Apesar do elenco majoritariamente jovem, o filme dialoga com diferentes camadas da população e expõe de forma clara suas questões. Uma produção que agrega e se faz indispensável, como tantas outras de mesmo teor.

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THE MANDALORIAN É UM WESTERN. ENTENDA:

 

Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.