Na comédia “Luta de Classes”, de Michel Leclerc, acompanhamos os pais do menino Corentin (Tom Levy), Paul (Edouard Baer) e Sofia (Leïla Bekhti), sendo ele um anarquista e baterista de uma banda punk e ela uma advogada bem-sucedida e progressista de origem árabe. Como pais, ambos buscam o melhor para a educação de seu filho, porém os problemas e a solidão que a criança enfrenta na escola pública colocam em conflito as visões de mundo do casal.
O título do filme imediatamente remete ao conceito marxista de luta de classes, porém a obra não se baseia de maneira óbvia no embate entre classes dominantes e dominadas, mas traz reflexões de como em um ambiente multicultural e multiétnico como a escola pública ser branco também se torna uma classe social. Além de também discutir como a escola privada é um ambiente cercado de privilégios que abriga tão somente as classes mais altas e
que desenvolve uma visão limitada de mundo por esta razão.
Ainda que retratando uma escola pública do subúrbio francês, “Luta de Classes” aponta problemas universais como a falta de investimento público e os novos desafios da educação frente a crianças oriundas de contextos e culturas diversas. Apesar de abordar temas sensíveis como o multiculturalismo, religião, etnia, classe e sexualidade, a comédia consegue se manter integralmente respeitosa com as diferenças e usa do humor para refletir de maneira saudável sobre a convivência em uma sociedade plural e em constante transformação.
Porém, apesar do tom humorístico, é possível observar o filme como um drama familiar sob a perspectiva de como as visões e divergências políticas penetram nas relações familiares e ainda levanta uma série de questionamentos acerca de como conciliar estas visões com a criação dos filhos, uma vez que estas influenciam diretamente as crianças. Neste aspecto, “Luta de Classes” se distancia da possibilidade de ser um filme panfletário ao dirigir suas reflexões para uma autocrítica de alguns segmentos da esquerda. Segmentos estes representados majoritariamente por Paul e seus ideais, que ainda que progressistas, são constantemente projetados no mundo de forma acrítica e impositiva, colocando sua família e a si mesmo em situações constrangedoras, especialmente no que diz respeito a questões religiosas.
O filme também aborda a falta de acesso das classes populares a espaços culturais, mesmo que gratuitos, em função da falta de divulgação e o desafio de fazer com que as crianças frequentem estes espaços. Dando especial atenção ao cinema, que acaba sendo utilizado para referenciar diretamente o clássico “Os Incompreendidos”, de François Truffaut.
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