Apesar de sua premissa que apela para o subjetivo, Kadaver não é um filme difícil de se compreender. Na verdade, sua maior fraqueza é a falta de confiança com o público e, em determinados momentos, sentir a necessidade de se fazer didático. Cortando esses momentos, certamente ainda seria um filme que se sustenta por si só.
A história invoca um cenário pós-apocalíptico onde sobreviventes de um desastre nuclear travam uma batalha contra a fome. E logo de cara vemos que é um filme sem medo de trabalhar com o frio e o escuro. No longa, acompanhamos a história de uma família composta por pai, mãe e filha pequena que são convidados para uma noite em um hotel para se servir de um banquete e acompanhar uma peça de teatro interativa, onde a plateia usa máscaras para que possam se distinguir dos atores.
O que inicialmente parecia a oportunidade única de suprir uma necessidade básica e fugir da realidade caótica se torna um pesadelo tão sombrio quanto o que está lá fora quando a filha pequena, Alice, desaparece. Então o horror começa a se desdobrar pelos corredores e passagens secretas.
Em primeiro lugar na lista de erros está o ritmo fraco. Mesmo com tudo o que se passa, Kadaver demora para, de fato, acontecer. Ouso dizer que, sem necessidade alguma, é incansavelmente postergada a revelação do grande segredo dos bastidores para enfim se mostrar algo altamente previsível. Também são incômodas as brechas na narrativa que não se fecham, entregando a pouca experiência do diretor estreante Jarand Herdal em conduzir os conflitos às suas devidas resoluções. São quebras irritantes, mas que não perturbam por definitivo a convidativa atmosfera teatral.
E “teatral” é a palavra-chave desse conto sobre humanidade em tempos de selvageria. A qualidade das performances é altíssima e de potência Shakespeariana, manipulando o jogo de realidades onde, com gosto, nos perdemos. Mesmo com todos os erros, Kadaver é polido, instigante e sinistro. Este terror fora dos moldes Hollywoodianos do gênero é uma aposta proveitosa para pôr em discussão a ética da sobrevivência e a linha tênue que separa homens de animais.
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