Por Amanda Luvizotto
“Como é estranho quando uma ilusão morre. É como se você tivesse perdido um filho.” Judy Garland
Quando assistimos aos filmes da chamada “Era de Ouro” do cinema americano, não é possível enxergar por trás de todo aquele talento e glamour, o ambiente tóxico no qual viviam aquelas atrizes. Recentemente, diversas produções abordaram os abusos sofridos por Norma Jean antes e depois da mesma ser mundialmente conhecida como Marilyn Monroe. Seguindo esta temática, o novo filme de Rupert Goold, Judy, narra os últimos anos de outra brilhante atriz da época, Judy Garland, e as consequências que o showbusiness trouxe para sua vida.
Baseado na peça teatral “End of the Rainbow” escrita por Peter Quilter, o filme traz Renée Zellweger no papel principal em uma inteligente escolha da direção. A atriz passava por um período de ostracismo em sua carreira, afastada voluntariamente a seis anos das grandes bilheterias e premiações. A pausa foi benéfica para o amadurecimento da profissional e não à toa, é possível dizer que em Judy temos a melhor atuação da carreira de Renée, que conseguiu anular a si e a seus maneirismos perante o papel, fazendo o espectador esquecer por diversos momentos que não se trata de Judy Garland em pessoa na tela. O papel já lhe rendeu prêmios como o Globo de Ouro e muito provavelmente lhe trará o Oscar de melhor atriz deste ano.
O roteiro, adaptado por Tom Edge, tem como objetivo mostrar uma Judy Garland madura e solitária, em seu momento de maior decadência, profissionalmente e pessoalmente. Porém, não deixa de ilustrar a “raiz” dos traumas da atriz em flashbacks pontuais e contextualizados, traçando um paralelo entre o comportamento que assistimos no presente e acontecimentos ocorridos no passado, durante a filmagem do longa-metragem que seria seu maior sucesso – O Mágico de Oz.
Ao exibir os abusos sofridos por Garland durante sua adolescência, Goold demonstra como a jovem foi explorada ao longo de toda sua vida por aqueles que deveriam zelar por ela. Familiares, amigos, agentes e companheiros sempre se beneficiaram do talento da atriz, que amadureceu oscilando entre a carência extrema e a dificuldade de confiar em alguém.
E, se para alguns, a maior crítica ao filme foi a incongruência na escolha da música que o encerra por supostamente transmitir uma mensagem otimista sem motivo, para outros a atuação de Zellweger entrega justamente o contrário. O vazio presente no olhar da atriz e sua relutância ao cantar aqueles versos, enfatizam a falácia daquela canção para a personagem a qual ela interpreta. Naquele momento Judy já não é mais uma menina e sabe que o “lugar além do arco-íris onde os problemas derretem como gotas de limão” não existe. A sequência é a mais emotiva da produção e ilustra perfeitamente a desesperança de Garland, que viria a falecer devido a um suicídio acidental poucos meses depois.
Judy nos mostra o pior lado de Hollywood e também da solidão de uma artista, que tinha seu talento como um fardo, algo que lhe tirou a liberdade de escolha e vida. Rupert Goold apresenta um longa que honra a memória de Judy Garland e faz um alerta à todos sobre os malefícios do showbusiness – além de marcar o belíssimo retorno de Renée Zellweger às cerimonias de premiação.
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