Garota Inflamável é a estreia de Elisa Mishto na ficção, de drama e humor ácido a produção ítalo alemã dispôs de uma equipe multicultural baseada em Berlim trazendo a experiência internacional sem perder sua enriquecedora identidade.

O filme nos apresenta Julie (Natalia Belitski), uma jovem que possui um manifesto: fazer nada. Ela não trabalha, não estuda, não possui amigos e não se relaciona profundamente com as pessoas. Desfruta de uma herança deixada pelos pais,  sustento utilizado entre idas e vindas em clínicas psiquiátricas, embora não tenha um diagnóstico claro.

A construção do filme levou 12 anos até a sua exibição final, passou por pesquisas em hospitais psiquiátricos e evoluiu tal como a diretora/ roteirista. Uma história de improváveis amizade e de mulheres. Mais que isso, uma narrativa de privilégios contemporâneos de uma geração que arde em seu limite por traumas de infância não curados resultantes em explosões inconsequentes.

Vive-se mais da imaginação e se desaproxima do próximo ao ascender a chama do imediatismo e acreditar que as coisas são eternas e nunca acabam tal como o dinheiro para Julie, a herança não tem fim e por isso ela queima o dinheiro de seus pais.

Em  contraponto, acompanhamos Agnes (Luisa-Céline Gaffron)  que vive o esperado de uma sociedade: ter um trabalho, cuidar do marido e da filha. A partir disso vemos que a culpa é sempre dos pais, de casa, por mais que estejam fazendo o seu melhor, a verdade é que todos estão fazendo o seu melhor.

Há uma tensão entre Agnes e Julie, um flerte com o perigo, um fulgor com o lado da vida que não é vivida por cada uma, um de extrema responsabilidade e outro de total inconsequência. Uma mãe que tem problemas com a filha e uma filha que precisa curar o trauma que sua mãe lhe deixou.

Ambas precisam entrar em contato com sua natureza para que se obtenha aceitação e libertação. Mishto deixa isso claro ao compor as cenas com a presença forte da natureza a partir de elementos como as árvores.

Ao viver sem expectativas, sem consequências, Julie afasta todos e por assim dizer vive pelos seus desejos que não são claros, pois não conhecemos o real interior da personagem.

Ela nos revela que as relações humanas se tornam barulhentas com o tempo e por isso é necessário estar sozinha para que solidão traga o silêncio. O silêncio que é utilizado em contraponto com o mais marcante do filme: a trilha sonora.

Houve um trabalho minucioso entre Sasha e Mishto ao selecionar as músicas a partir de letras já escritas com forte influência nos anos 90, crescendo com o público para além do roteiro uma conexão emocional com a história.

A parceria que foi um sucesso nos revela que “filme é música e música é filme” ao mesclar musicalidade e performances corpóreas que aprofundam as diversas camadas que garota Inflamável traz acerca das expectativas da sociedade em relação à mulher.

 

 

 

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