O diretor Armando Praça fez em Greta, seu longa de estreia, uma bela e melancólica representação do desejo sexual e de frustrações de vida de uma pessoa mais velha. A obra seguinte do cineasta volta ao tema das expectativas fracassadas, mas dessa vez com uma abordagem e um resultado diferente.
Pilar (Clébia Sousa), uma jovem camareira que trabalha em um antigo e decadente hotel, tem planos de emigrar à Europa para tentar uma nova vida. A hóspede sul-coreana Shin (Lee Young-Lan) chega na cidade para resolver pendências pessoais e os planos das duas mulheres começam a dar errado, mas os percalços fazem com que ambas acabem se aproximando em uma relação de ajuda e solidariedade.
A confusão emocional da estrangeira Shin é muito bem representada no trabalho sonoro do filme. A mixagem se une à trilha sonora de tensão, com pequenos toques de sinetas que remetem aos sons de elevadores ou de campainhas de mesa em recepções.
A alternância dissonante entre os canais laterais destaca ainda mais o alvoroço que ocorre na cabeça da personagem, amplificando também a atmosfera de suspense do filme: o espectador fica instigado a querer saber o que aconteceu.
É bem verdade que Armando Praça já demonstrou ser capaz de trabalhar com representações requintadas. Em Fortaleza Hotel, no entanto, alguns detalhes saem da categoria de “detalhes” e passam a soar óbvios demais: Pilar quer se mudar e são frequentes as imagens de navios encalhados, “Socorro” é o nome de uma amiga que a ajuda financeiramente.
Como se não bastasse, o próprio texto faz questão de gritar as metáforas pro espectador: “você sabe que eu não gosto de bicho preso. Se você não voltar, eu vou soltar esse pássaro da gaiola.”. As personagens também são enquadradas através de um aquário. Animais presos. Elas se sentindo aprisionadas. Entenderam (piscadinha)?
O filme funciona melhor quando deixa as composições imagéticas falarem por si de forma mais discreta. Quando Pilar está em frente ao mar, a profundidade de campo é reduzida e apenas a protagonista aparece em foco. O mar ao fundo, símbolo maior de liberdade, aparece fora de foco, borrado.
É nesse tipo de simplicidade que a habilidade da direção se destaca. Em um pan (movimento no qual câmera girando sobre o próprio eixo), vamos do quarto de Pilar ao portão de entrada da casa, na estratégia de mostrar com um só deslocamento de câmera que naquele lugar existem apenas dois vãos (vão entrando e vão saindo, rá), ou seja, entendemos a estreiteza daquele local usando a linguagem do cinema de forma simples e elegante.
Mais uma vez aprisionadas e forçadas a conviver juntas por certo período de tempo no terço final da história, as duas mulheres unem o forró e a música coreana em danças desengonçadas. A cena poderia soar doce, mas a maneira travada e pouco natural com que se desenrola torna difícil o envolvimento emocional do espectador. E é essa alternância entre ferramentas artificiais e ferramentas eficazes que dá o tom do filme.
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