Fale Comigo é o longa-metragem de estreia dos diretores (e youtubers) Danny Philippou e Michael Philippou. A dupla utiliza-se dos elementos recorrentes do gore mas sem deixar de lado a construção psíquica da protagonista.
Um grupo de amigos começa a fazer jogos com uma mão embalsamada que lhes permite se conectar com espíritos. Porém, um deles vai longe demais por um caminho sem volta. Tendo como principal figura a personagem Mia (interpretada por Sophie Wilde), uma menina que não superou a perda da mãe. Inicialmente, a vemos sob um olhar melancólico e vazio, olhando em muitos momentos para o nada. É claro que o tema de depressão retorna aqui também.
No entanto, o roteiro (com contribuições dos diretores e do Daley Pearson) se esforça para dar mais tridimensionalidade para a sua perda, tendo como única ligação materna a cor amarela de suas vestes (o que remete a cor do cabelo da mãe revelado em um momento de amor entre as duas) que destoa completamente do resto.
Sem rumo, Mia tenta preencher esse vazio de alguma forma. Por isso, se prontifica a participar do jogo irresponsável dos jovens, pois é a maneira que ela encontra de ter uma válvula de escape, um conforto. No entanto, o conforto se transforma em necessidade e os jogos se transformam em vícios. Há uma passagem no segundo ato que Danny e Michael convertem a sequência de suspense/terror em algo dramático. O que antes era sobrenatural, se assume como uma compulsão (ou uma droga). Algo que remete a “quebra de regras” tradicionais em filmes do subgênero slasher.
A fotografia escolhe, por exemplo, cada vez mais isolar a personagem e uma dessas formas é a pouca profundidade de campo. Em vários momentos, quando ela é o cerne da cena, notamos o fundo desfocado que elimina informações ao seu redor e nos direciona somente para a personagem de Sophie Wilde. Essa decisão reforça ainda mais a ambientação e profundidade psicológica de sua protagonista.
O vazio de Mia se estende até a própria casa. Mesmo com o filme não interessado em fornecer mais informações da figura paterna tanto pela fotografia (é o personagem com mais pouca iluminação de todo o longa) quanto pela construção de cena (seus momentos são os mais artificiais possíveis), a montagem consegue recompensar o expectador ao proporcionar a sequência mais tensa (e triste) de todo o longa.
E isso só é possível pela forma como os diretores iluminam os ambientes. Em mais da metade do filme a presença de três pontos de luz são suficientes para equilibrar escuridão e nitidez para o espectador. Some-se a isso ao design de produção que prepara um clima com objetos que se equilibram nas cores azul, cinza e preto para propor uma extensão da fotografia, pois a vida de Mia se encontra no mais denso escuro. Não é à toa que a personagem se depara com um animal ferido na estrada e não consegue tirar a vida dele. Um prenúncio do que veremos na última sequência da obra.
Por isso, Fale Comigo é um filme que fornece mais elementos de compreensão e imersão de sua protagonista. Sem possuir a menor piedade de jogá-la no mais denso terror e sofrimento que atingirá até mesmo outros em seu redor.
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CRIANDO TERROR