No cinema, é muito comum torcermos para o vilão, principalmente, quando ele é o protagonista. Isto acontece com Neil Mccauley, vivido por Robert De Niro, em Fogo Contra Fogo; o Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix; e em séries também, como Walter White (Bryan Cranston), em Breaking Bad.

Se no suspense Garota Exemplar, temos Rosamund Pike vivendo a sociopata Amy e sentimos um pouco de empatia por ela, em Eu me Importo ocorre o oposto. No novo filme da Netflix, Rosamund interpreta Marla Grayson, uma mulher decidida e corrupta. Ela se aproveita da ingenuidade de idosos para enriquecer. No entanto, tudo muda quando Marla tenta dar o golpe em Jennifer Peterson (Dianne Wiest). 

Em Garota Exemplar, David Fincher abraça a loucura de Amy. Ainda que a personagem tenha pequenos motivos para se vingar do marido, suas atitudes não são completamente compreendidas. Ela faz o que faz porque quer. O diretor cria um verdadeiro jogo envolvente em torno da relação dos dois. Em Eu me Importo, J Blakeson parece não ter certeza do rumo que deseja dar à trama. O longa começa com a voz da protagonista contando que praticar o bem não leva a lugar algum. Ela quer ser rica e não tem medo de passar por cima de quem for para atingir seus objetivos, deixando isso bem nítido desde o início. Então, em vez de adentrar na loucura de Marla Grayson, Blakeson torna suas ações um tanto racionais demais.

A obra oscila entre um blockbuster genérico e uma narrativa que se leva a sério. É difícil entender as intenções do cineasta. Todas essas questões contribuem para o espectador não sentir nenhuma empatia (ou uma simples simpatia) pela protagonista. A maior parte dos bons vilões do cinema encantam pelo seu lado mais humano ou o extremo oposto, como uma força maquiavélica da natureza. Deste modo, podemos citar, novamente, o Coringa de Joaquin Phoenix – mais humano – e o Coringa de Heath Ledger – impiedoso.

Marla não apresenta nada disso. Só desejamos que ela se dê muito mal. Essa falta de carisma até poderia fazer sentido, se o filme realmente fosse eficaz em mostrar o quanto a corrupção afeta as pessoas e está infiltrada no “Sonho Americano”. Assim, Marla perderia sua humanidade.

O diretor, porém, só escolhe se aprofundar nessa faceta nos minutos finais. A ladra esbanja apatia e não convence quando tenta mostrar o porquê de tudo aquilo. Entendo que a Netflix queria mostrar uma mulher forte enfrentando os homens da máfia. Mas o que temos são diálogos desnecessários sobre machismo, um amontoado de clichês e personagens preguiçosos. Mais uma tentativa do streaming de atrair o público pela temática e não pela forma.

O cineasta perde muito tempo com reviravoltas no jogo de gato e rato dos bandidos. Mesmo com um ritmo frenético, fica a sensação de nada ir para a frente. Os furos de roteiro não importariam se o filme não se propusesse a encontrar respostas, como é o caso de muitos giallos, principalmente de Dario Argento. Como a narrativa tenta “explicar” tudo, fica difícil ignorar algumas situações. Apesar de ser um lançamento esquecível, o final foi a parte mais interessante. Faço um elogio à escolha de Blakeson de escancarar a essência suja dos empresários americanos. Gostaria que ele tivesse se aprofundado mais neste aspecto político. Para quem procura algo simples para assistir e se divertir um pouco, até que não é uma possibilidade tão desastrosa.

 

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VISÃO GERAL
Avaliação
Júlia Pulvirenti
Jornalista formada pela PUCRS, redatora e social media. Apaixonada por cinema, pesquisar e debater. Estuda profundamente Bergman e David Lynch
eu-me-importoNo cinema, é muito comum torcermos para o vilão, principalmente, quando ele é o protagonista. Isto acontece com Neil Mccauley, vivido por Robert De Niro, em Fogo Contra Fogo; o Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix; e em séries também, como Walter White (Bryan Cranston),...