Em favor do fio narrativo, o filme concede ao explorador ainda um voto de confiança: não o trata como alguém essencialmente mau, mas antes uma pessoa muito equivocada e igualmente motivada, inebriada pelo próprio ego. Partindo deste dado, o filme rejeita bater numa questão vencida; prefere acreditar num valor intrínseco do trabalho audiovisual de René, e faz isso ao objetivar as imagens por ele produzidas, desvinculando-as de seu discurso problemático.
Para fazer isso, o diretor rejeita mimetizar seu objeto de estudo, que pensava entender o outro por completo. Num esforço de equilíbrio, Hedinger, o diretor, submete o discurso e também as imagens de René a uma exposição meticulosamente objetiva. Essa objetividade não trata de uma retórica de isenção; sua opinião está ali bem colocada, mas é feita de maneira restritiva, com gestos econômicos, notadamente através da montagem crua e da linearidade do discurso, que nunca cede à ironia; assim como pela sutileza da trilha e dos efeitos sonoros que aquarelam a dramatização as narrações em off.
Apesar de custoso em seu ritmo e forma, pela própria natureza do filme de arquivo, o documentário cumpre o que propõe de saída: apresentar René a partir de seu próprio discurso e trabalho, operando um esforço oculto de delinear diferenças estritas de sentido e valor entre o valor do registro histórico do seu trabalho audiovisual e das ideias que o motivavam.
Sobretudo, o documentário se apresenta como um interessante estudo de caso; é sobre como a percepção a respeito de diferentes e superadas visões de mundo estarão, em última instância, sempre fundamentadas sobre uma percepção coletiva contemporânea, de agora, também sujeita a ser superada. Sugestivamente o filme manifesta, portanto, um desejo de que as coisas sejam olhadas e digeridas sempre com um pouco de calma.
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