Elize Matsunaga: Era uma vez um crime é uma minissérie da Netflix que traz um novo olhar sobre um dos crimes mais midiáticos do país: a morte de Marcos, um rico empresário do Grupo Yoki. Assassinado por sua esposa com um tiro na cabeça e posteriormente esquartejado e transportado em malas, o documentário traz relatos de figuras icônicas do caso além de colocar Elize como eixo central da narrativa.
Com tom fortemente jornalístico, porém estruturado com recursos fílmicos de montagem a fim de passar uma percepção inclinada à visão feminina da equipe de produção, conhecemos, após quase dez anos, quem é e quem foi Elize. Uma adolescente fugida dos abusos do padrasto no interior do Paraná que virou garota de programa de luxo em São Paulo para pagar suas despesas e a faculdade.
É nesse cenário que a criminosa conhece o rico ex-marido, frequentador assíduo de prostituição. Através dele, a jovem prostituta vira amante e alguns anos depois esposa.
Compartilhando do gosto masculino e agressivo do marido por armas e caçadas em pleno coração do Pantanal brasileiro ela se molda. Um molde de sangue e covardia, que a faz replicar em Marcos uma de suas caçadas, porém desta vez frente a frente em uma discussão mortal.
Para além das características comportamentais de Elize, a minissérie refaz os passos do julgamento trazendo para o elenco os protagonistas midiáticos do caso. Protagonistas estes que são em maioria quase absoluta, formada por homens de postura tradicional e machista. Isso fica explícito durante as entrevistas em suas falas e argumentos.
A missão do seriado não é ser partidária e/ou solidária a Elize e sim revelar ao grande público, por meio da gigante Netflix, que a justiça é feita por homens brancos, cisgêneros, heterossexuais e patriarcais. O brutal crime de Elize é uma resposta ao feminicídio, dada as circunstâncias de que ela reage instintivamente às constantes agressões psicológicas do ex-marido.
No feminicídio, principal causa do assassinato de mulheres no Brasil, a vitíma é morta oriunda de ciúmes e relacionamentos ultra abusivos do parceiro.
Um assassinato claramente não premeditado e amplamente explorado pelos noticiários da época. Simplesmente, porque como seria capaz uma mulher pequena e magra assassinar e esquartejar sozinha o marido milionário?! O sangue frio e potência reativa de Elize é uma afronta ao eixo estrutural da sociedade brasileira.
Por outro lado, é notório o intuito de recolocar o caso no media setting de sites, blogs e redes sociais. Reacender o caso Marcos e transformá-lo em uma lucrativa fonte de captação de recursos através do cinema.
Seja este ou não o objetivo dos assessores de Elize, uma coisa é certa: a minissérie caiu no gosto do público e trouxe à tona diversas discussões acerca do imposto papel de submissão feminina frente ao marido másculo e provedor.
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