Como qualquer menina nascida nos anos 90, Thalita Rebouças moldou minha pré-adolescência. Afirmo isso com muito orgulho porque foi ela quem me fez tomar gosto pela leitura. Nenhuma criança começa lendo Machado de Assis, então é melhor que leiam Crepúsculo e Meg Cabot do que não leiam absolutamente nada.
Mas também a minha geração teve um delay entre o lançamento dos livros e dos filmes da Thalita. O primeiro filme inspirado em uma obra sua foi lançado no ano passado, mais de dez anos depois dos livros chegarem às prateleiras. Não que isso seja um problema – fiz uma pesquisa entre minhas alunas e elas leram recentemente os livros da Thalita -, mas a geração que acompanhou o lançamento dos livros já não faz mais parte do público alvo da autora.

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Mesmo assim, eu e minhas amigas nos rendemos a assistir as adaptações cinematográficas dos livros que marcaram nossos 12 anos. “Fala Sério, Mãe!” foi uma surpresa muito agradável, principalmente por conta das protagonistas Larissa Manoela e Ingrid Guimarães que tem uma ótima química em cena. O meu livro favorito da autora, “Tudo Por Um Popstar”, tinha tudo para ser um sucesso: foi estrelado pelas it girls brasileiras do momento (Maísa, Klara Castanho e Mel Maia), mas acabou sendo bem flopado no final das contas. Eu suponho que houve problemas na produção, porque o filme atrasou bastante para ser lançado.
Minha expectativa para o novo filme da Thalita, “Ela Disse, Ele Disse”, não era muito alta, visto que eu não li o livro em que o longa é inspirado. Mas aqui vai uma confissão pessoal: no auge dos meus 24 anos, ainda sou uma ávida consumidora de comédias românticas adolescentes.
E dentro desse gênero o filme é legal: um casalzinho no começo do Ensino Médio (na verdade eles estão no nono ano, mas é quase no Ensino Médio) que não entende muito bem o que sente um pelo outro. O filme tem todos os ingredientes da receita de bolo: a vilã popular, metida e meio burra; as amigas divertidas e com a língua solta; os nerds gente boa; o valentão da classe; a diretora carrasca…

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Mas, de certa forma, o universo adolescente criado pela Thalita (em todas as suas obras, na verdade) não é exatamente um universo adolescente real. Os dilemas dos primeiros relacionamentos, mudança nos corpos e sentimentos são verdadeiros, mas ainda se desprende da realidade em muitos aspectos. Aos 15 anos, grande parte dos adolescentes já teve contato com álcool e, uma minoria, com alguma droga. O universo de Thalita não tem como objetivo abordar essas questões, o que não é exatamente errado, mas tangenciá-las é também um pouco leviano.
Um momento específico que isso acontece é em uma das cenas que está no trailer (e por isso vou contá-la sem sentir o peso de um spoiler). A vilã Julia se refere à Rosa como “dragão de Game of Thrones”. Eu ri da piada, mas eu tenho 24 anos e assisti todas as temporadas da série. Por que faço questão de ressaltar minha idade? Porque GOT foi lançado em 2011. Eu tinha 16 anos. Julia, a vilã, tinha 6 anos. Não é que um adolescente de 14 anos hoje não possa ter assistido GOT – afinal a que virou uma febre -, mas essa faixa etária não é muito representativa entre os fãs da saga. Fiz a mesma pesquisa com as minhas alunas e apenas uma, das trinta, assistiu GOT.

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Mas o problema real do filme não é o universo ou a inconsistência com os adolescentes dos anos 2010. O livro é narrado simultaneamente pelos dois protagonistas, Leo e Rosa, e o filme tenta manter os dois pontos de vista… Mas de um jeito extremamente incômodo: com narrativas em off totalmente didáticas e desnecessárias. Logo no começo do filme, Rosa fala uma besteira a Leo por estar nervosa e olha para a câmera com cara de desespero. Já podemos facilmente entender como ela se sente, mas a narração em off reitera: “meu deus, o que eu disse?”. Chato e desnecessário, e acontece diversas vezes ao longo do filme.
Apesar da narração excessiva, o filme é divertido e bonitinho. Os atores Duda Matte e Marcus Bessa são ótimos e tem muito futuro. Eu gosto bastante da Maísa, mas a sua atuação como vilã é um pouco forçada (de novo, fora da realidade de tão estereotipada). Outro ponto positivo é que, embora o casal protagonista seja heterossexual, o filme não é heteronormativo. “Ela Disse, Ele Disse” passa uma mensagem bem clara em uma das cenas mais fofas: o amor deve ser celebrado de todas as formas.

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