Ao total, são 56 histórias ou situações; 56 planos estáticos que mostram vidas e lugares que nunca se repetem e não tem relação alguma entre si a não ser pelo recorte temporal em que estão inseridos.
Por essa diversidade caleidoscópica, há aqui algo como uma cápsula do tempo, uma fotografia simultânea de uma comunidade; o filme trata, no fim das contas, da formulação de um dispositivo dramático que o possibilite dispor um número enorme de situações, que possa passear por múltiplos aspectos culturais e sociais do país de maneira que exista coesão entre as partes. A diversidade que o rigor da estrutura proporciona lembra bastante experiências mais radicais como o filme/instalação The Clock, do artista Christian Marclay.
O filme vai por montanhas nevadas inabitadas, fala da questão dos refugiados na Europa, comenta a onipresença da tecnologia, se detém em interessantes naturezas mortas, constrói pequenos dramas familiares; e por aí segue, e segue, e segue. Uma diversidade temática tão grande que facilmente poderia prejudicar o envolvimento do espectador do filme, mas que exerce, ao confiar nesse rígido dispositivo, uma interessante e inventiva sensibilidade na escolha do que e de como olhar.
Em especial nos planos que transparecem uma encenação dramática, ficam ressaltados a construção visual do plano como um painel renascentista, muitas vezes divididos pelo enquadramento em ações simultâneas, a movimentação inventiva dos personagens em profundidade e também a duração temporal de cada plano.
São pequenos gestos e escolhas que variam muito cena a cena, e possibilitam que o filme seja lido também como um jogo de adivinhação: o que ali é documentário, o que é ficção e como cada plano foi construído ou encontrado? A intencional falta de clareza em relação aos limites entre documentário e ficção apenas contribui para o jogo de ilusionismo que está aqui proposto. Nessa interessante dinâmica de movimentos mínimos, o filme se fecha como um círculo, sem uma curva dramática aparente em relação ao conjunto total.
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