Atenção: este texto NÃO contém spoilers

Uma das primeiras obras literárias a misturar ficção científica e fantasia foi Duna, escrita pelo estadunidense Frank Herbert. Lançado em 1965 e considerado o livro do gênero mais vendido de todos os tempos, a trama aborda questões políticas e ideológicas contemporâneas do período, como a Guerra Fria e a ameaça da exploração nuclear.

Duna se passa em um futuro distópico onde o Universo tornou-se um império controlado por casas de famílias nobres e cuja principal fonte de renda é a extração e exploração da especiaria melange, presente no planeta Arrakis, também conhecido como Duna.

Diferentemente de outras obras com temáticas similares e que se inspiraram em Duna, a religião possui uma forte presença e influência na trama. O personagem principal é Paul Atreides, filho do Duque de Atreides, próximo governante a assumir Arrakis – momento em que a história se inicia.

O universo criado por Herbert e expandido por seu filho, Brian, foi adaptado anteriormente para o cinema pelo diretor David Lynch em 1984, com nomes no elenco como Virginia Madsen, Sting, Max von Sydow e Kyle MacLachlan no papel principal. Porém a recepção do filme não foi boa, e seu resultado final desagradou não apenas aos fãs mas também ao próprio Lynch, que teve sua versão final de quase quatro horas de duração editada pelos produtores para um corte final de duas horas e meia, deixando o filme bastante superficial e corrido em seu terceiro e conclusivo ato.

Portanto, é compreensível a euforia causada quando há alguns anos saiu a notícia de que Denis Villeneuve, diretor famoso por executar obras de sucesso envolvendo ficção científica como A Chegada de 2016 e Blade Runner de 2017, estaria trabalhando em uma nova adaptação cinematográfica da franquia.

Em conjunto com Jon Spaihts e Eric Roth, o cineasta propôs uma adaptação do primeiro volume literário em duas partes, o que lhe daria um maior tempo de desenvolvimento para a trama e também para as personagens e seus conflitos. Produzido pela Legendary Entertainment e com distribuição pela Warner Bros. Pictures, o filme chega agora aos cinemas após um adiamento devido a pandemia de covid-19 e a necessidade de filmagens adicionais.

Com um elenco que fala por si só, formado por Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Zendaya, Jason Momoa e Javier Bardem, a versão de Villeneuve também tem a vantagem de dispor do melhor em termos de tecnologia gráfica e efeitos visuais – algo que fez toda a diferença se compararmos o recente lançamento com a versão de mais de 30 anos atrás.

As melhorias vão desde detalhes como os escudos usados pela família Atreides, até sequências de ação inteiras, muito bem executadas e que não tinham recursos para tal em 1984.

Aliás é impossível falar da obra sem citar a sua belíssima fotografia e montagem que consegue colocar o espectador em momentos essencialmente contemplativos, sendo imerso pelo movimento das areias do deserto, ou em estado de alerta diante de batalhas envolvendo naves, fogo e exércitos, em cenas cuja duração é suficiente para causar efeito na trama sem se tornar cansativas.

A produção de arte também chama atenção até mesmo da audiência mais desatenta, conseguindo transpor características pessoais das personagens em seu figurino, além da elegância dos trajes em cena – algo difícil de ser executado se levarmos em conta a referência de outras franquias conhecidas.

A atuação dos atores e atrizes é impecável, e a química entre Timothée Chalamet e Rebecca Ferguson funciona particularmente bem; para além da relação familiar, a cumplicidade que os dois entregam em cena é excepcional. Já Stellan Skarsgård rouba a cena mesmo com pouco tempo de tela e a enorme caracterização de seu personagem, deixando os fãs ansiosos sobre quais serão os próximos feitos do vilão Barão Vladimir Harkonnen na parte 2 da produção.

Outro destaque que merece ser citado é Jason Momoa que mesmo em um papel que corresponde ao estereótipo usualmente interpretado pelo ator, apresenta uma carga dramática vista poucas vezes em seus trabalhos anteriores.

Duna é sem dúvidas um filme para ser visto na tela grande, no cinema – respeitando todas as regras de restrição e afastamento obviamente. Denis Villeneuve consegue entregar um trabalho de fantasia que não é apenas contemplativo, mas que envolve o espectador e o torna indiretamente parte de sua história – seja pelos efeitos especiais, ou pelo uso inteligente dos enquadramentos que nos insere dentro das cenas. Um trabalho que merece todas as críticas positivas e que desperta – na medida certa – a curiosidade da audiência para sua continuação.

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Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.