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Downton Abbey: Uma Nova Era | Crítica

Após seis temporadas e um longa-metragem lançado em 2019, estreou no último final de semana nos cinemas Downton Abbey – Uma nova era, filme que dá continuidade à franquia britânica criada por Julian Fellowes. Dirigida por Simon Curtis, em sua estreia como diretor, a obra acompanha o desenrolar da história inglesa pela perspectiva da aristocrática família Crawley e seus criados, na idílica propriedade inglesa de Downton.

Alguns anos se passaram desde a conclusão da produção anterior e o subtítulo “uma nova era” não é em vão; os Crawley são confrontados com a chegada dos anos 30 e as inovações tecnológicas da década como, por exemplo, o cinema. Há também a necessidade de adequação aos “novos tempos” e suas dificuldades financeiras, algo difícil para um núcleo tão abastado e conservador.

Aliás, a questão financeira é o principal ponto de partida da trama: com a propriedade necessitando de um grande número de reparos, à contragosto, os Crawley aceitam o pagamento de um significativo montante em dinheiro diante da contrapartida de que as portas da mansão sejam abertas, durante o período de um mês, para a realização de um filme.

Com a chegada da equipe da produção cinematográfica, parte da família viaja para tratar de assuntos pendentes em outra propriedade, uma Villa, localizada no sul da França e herdada recentemente por Violet (Magie Smith). Tal artifício foi uma escolha inteligente de roteiro e direção, já que seria difícil administrar a considerável quantidade de personagens pertencentes à história em uma só locação, considerando que o tempo de tela cinematográfico é bem mais limitado do que na estrutura episódica do seriado.

E sem dúvidas é um deleite acompanhar os belos cenários, figurinos e toda a direção de arte envolvida, sempre brilhantemente executada. A conhecida trilha sonora dita o tom da história, assim como os takes que salientam que Downton não é apenas um cenário, e sim uma espécie de personagem – que dá título ao universo explorado.

O carregado sotaque inglês e os dramas envolvendo não apenas a família Crawley, mas também seus criados que possuem protagonismo maior ou igual ao núcleo principal, seguem presentes e transportam a audiência para a nostálgica atmosfera criada ao longo de tantos anos por Fellowes.

A propósito, no que diz respeito aos conflitos e arcos individuais dos personagens, é possível perceber a intenção de abordar temas inerentes à mudança de comportamento da época, que já apresenta o declínio da conservadora estrutura aristocrática e monárquica do país. Se anteriormente muitos criticaram que a série era apenas sobre “quem roubou a prataria da madame”, agora isso já não é mais possível.

Tópicos sensíveis como: homossexualidade, o fracasso da estrutura matrimonial, a consolidação da mulher em altas posições de trabalho, a objetificação da figura feminina são desenvolvidos em cena. Na verdade o roteiro deixa claro que as protagonistas da história e do seu desenrolar são as mulheres, mesmo que em um primeiro momento a estrutura patriarcal oblitere tal fato.

O elenco segue entrosado e entregando atuações satisfatórias, com Dominic West e Laura Haddock como excelentes adições ao cast principal. Mas é impossível não destacar o trabalho de Maggie Smith; a atriz de 87 anos e mais de 60 filmes e 70 peças em sua carreira, consegue roubar todas as cenas em que aparece como a matriarca Violet, deixando até mesmo outros grandes nomes como Imelda Staunton e Penelope Wilton à sua sombra. Os diálogos com sua neta Lady Mary interpretada por Michelle Dockery (que recentemente protagonizou a série A anatomia de um escândalo, na Netflix) são bem escritos e com interpretações emocionantes das duas mulheres.

Não obstante a produção possui falhas, e o ato final se desenvolve com uma velocidade maior que a necessária dado sua carga dramática, enquanto temos passagens dispensáveis – ainda que de alívio cômico – no 1º e 2º atos. A ausência de atores que interpretam papéis centrais na trama também é sentida e afeta os arcos de personagens centrais. Entretanto a obra conclui alguns plots principais e importantes de sua trama ainda que deixe outros em aberto, o que indica sem muito mistério ao espectador as pretensões de Julian Fellowes para o futuro da franquia.

 

 

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Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.