O cinema permite a experimentação de um recorte da realidade, uma perspectiva diferenciada sobre determinado assunto. Um dos temas tratados com abundância pela sétima arte são as relações conjugais. True Things (Coisas Verdadeiras na versão brasileira) subverte o imaginário coletivo dos endeusados relacionamentos amorosos e apresenta ao público o potencial destrutivo de uma relação tóxica.
Kate Parkin (Ruth Wilson em sua atuação primorosa) é funcionária de uma empresa que presta serviços burocráticos, auxiliando pessoas em situações complicadas de emprego. O trabalho enclausura a personalidade de Kate e não lhe permite nem sair rapidamente de seu posto para almoçar. Esse estrangulamento trabalhista, coloca a protagonista em uma situação de submissão forçada, levando-a para um quadro de depressão e baixa auto-estima.
Durante um de seus atendimentos ao público, em geral nada agradáveis ou respeitosos, um rapaz louro chama a sua atenção por tratá-la com cuidado e elogios. Blond (Tom Burke) ao desejar Kate, estende uma tábua de salvação para ela, porém isso resultará em um custo emocional altíssimo.
O relacionamento com Blond é um ato de rebeldia para a protagonista, que se converte na fuga do mundo real dos afazeres entediantes e desgastantes. O rapaz materializa em Kate todas as suas vontades e desejos guardados. Juntos, ela desafia regras e convenções. O relacionamento muda seu estado e aflora a sua real personalidade.
Kate vive a solidão e um vazio diário e sonha com um relacionamento romântico idealizado nas redes sociais. Aspirando por seu ideal apaixonado, ela projeta em Blond suas expectativas e investe na relação. Porém, o rapaz não tem os meus sentimentos e aproveita a situação para colocar sua pseudo namorada em posições exploratórias e nada confortáveis. A baixa auto-estima da personagem permite com que ela se coloque em último lugar em tudo o que diz respeito ao casal.
Blond funciona como uma droga. Kate procura o rapaz em momentos de dor e recebe em troca prazeres instantâneos e limitados. Conforme o tempo passa, esse efeito agradável diminui e transforma-se no infeliz baque da realidade. A protagonista está perdida dentro de si e a fotografia do filme reflete isso através de efeitos torpes e quadros diferenciados. Isso se repete toda vez que ela entra em choque com algo desagradável. O enquadramento 3×4, ao longo de toda a obra, enfatiza o mundo limitado e enclausurado de Kate.
O filme de Harry Wootliff traz numa perspectiva feminina, uma temática extremamente atual e relevante das relações amorosas. Até que ponto é preciso ter alguém para se sentir completo e ter a felicidade plena? A personalidade de Kate é a síntese de milhões de mulheres ao redor do mundo, e seu processo doloroso e destrutivo de libertação é uma lição de vida.
Coisas Verdadeiras foi exibido nos Festivais de Veneza e Toronto, e integra a programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Confira os textos sobre alguns filmes da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo: AQUI
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