Por Gabriela Rosa
O filme Cidade; Campo da diretora brasileira Juliana Rojas apresenta duas histórias diferentes sobre a migração entre a cidade e o campo. Duas histórias que carregam a paixão pelo campo.
No primeiro conto: Joana chega à casa de sua irmã, Tânia, em São Paulo, saindo do Campo devido ao rompimento da barragem na fazenda de sua família, deixando-a sem casa. Jaime, neto de Tânia, criança sabida de tecnologia, ajuda Joana a recomeçar sua vida na Cidade. No segundo conto: Flávia retorna às terras de sua família, junto de sua namorada Mara. O que parece ser apenas uma história de amor e de resgate ao passado, se torna um verdadeiro mistério sobre o que o solo e a ancestralidade tem a nos contar.
Com a dor da perda, a paixão pela sua terra e uma pitada de humor somos ensinados sobre a simplicidade e a sensibilidade das relações. Essas duas histórias com que Rojas nos presenteia abrem espaço para a reflexão e a indagação sobre o valor e, mais, o peso das imagens como forma de estabelecer uma realidade e uma conexão com o mais íntimo e mais doloroso. E isso, a diretora sabe fazer com maestria.
Por falar de imagens, é possível perceber em certas cenas um jogo de profundidade muito forte. Este jogo possibilita ao espectador uma experiência e vivência diferentes com o quadro. Experiência e vivência que o aproximam do filme e o tornam ator também, uma vez que, a medida que a imagem vai ganhando espaço a relação espectador tela ganha espaço também.
Com este efeito percebemos uma densidade imagética que pulsa. A representação de uma rua da Cidade de São Paulo e mais longe, casas e mais casas que acompanham a tela, dá ao quadro um caráter estético diferente – de um quadro que não há jogo de profundidade – pois, evidencia questões referentes a memória, a algo que foi perdido e pretende encontrar lugar para se restabelecer.
A personagem Joana carrega a sinceridade e a compreensão de uma vida passada. Ao se referir à sua cidade antiga como “cidade-fantasma”, percebemos que a lógica categórica da junção-palavra vai além e se torna um modo de dizer imagem. Isto é, rapidamente, associamos “cidade-fantasma” à perda de um valor e de um carinho. Como já dito em outras entrevistas, Juliana Rojas apresenta uma forma de contar histórias muito ligada à figura da mulher, e em Cidade; Campo é possível perceber isso; todas as personagens principais são mulheres e a maioria das que as atravessam também são.
E por que trazer este ponto para a discussão? Simples, porque conhecer uma diretora mulher e brasileira significa entender todo o contexto que ela está inserida, e pensar o que poderia levar esta figura a falar sobre migração, sobre família e sobre memória. Dito isso, assinalo que Rojas executa uma função social cinematográfica certeira, a partir do momento que traz à tona uma situação que diz muito sobre o país em que vive. A cidade em que nasceu. E as pessoas que o compõe. Ser Cineasta é fazer Cinema como modo de vida. É fazer cinema porque foi destinado a isto e se comporta como um ser artista de caráter social, político e cultural.
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