Quando venceu o Oscar de melhor ator em 1996, Nicolas Cage discursou sobre a importância de produções de baixo orçamento e alternativas para o futuro da atuação. Pois dentro dessa categoria é possível experimentar diversas esferas e construir possibilidades que seriam impossíveis dentro do cenário industrial.
Sob esse aspecto, Pedro Belchior Costa constrói o curta-metragem ‘Cartas a uma jovem mulher’, que explora os pensamentos íntimos – e às vezes confusos – da atriz Jhenifer Emerick, que se encontra em um momento de transição na vida. E que se inicia através da intimidade da jovem até um road movie, onde ela enfrenta a estrada com sua amiga, no intuito de se autodescobrir.
Influenciado pelo filme A Pista de 1962 (La jetée), mas com um visual digno de um percurso da Nova Hollywood, Pedro busca fotografar a atriz com a maior e máxima vulnerabilidade possível, pois o caminho de Jhenifer está repleto de feridas abertas. Não é à toa que a jovem se fere acidentalmente em uma parte do corpo. Porém, o que nos instiga como espectador é a busca pela resposta por ela não se curar rapidamente. O ferimento também se torna presente no curta e a acompanha durante alguns minutos.
A personagem não possui interesse de ser muito clara com o espectador e nem uma organização de pensamentos simples. Até porque nem ela mesma parece compreender o seu caminho. Por isso, Jhenifer busca se compor através de olhares vazios e confusos, mas contida na narração e na fotografia granulada do diretor.