Em Bem-Vinda A Quixeramobim, o diretor Halder Gomes transita com segurança sob caminhos conhecidos: uma trama de desenrolar simples envolta por um humor regional despretensioso. Não se trata de um comentário negativo, tendo em vista que seus melhores trabalhos seguem justamente essa linha (falo de Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão), enquanto suas obras não tão memoráveis buscam um certo distanciamento (estou olhando pra você, Os Parças).

No filme, conhecemos Aimée (Monique Alfradique), uma blogueira paulista que se vê obrigada a viajar ao sertão cearense para tentar recuperar o único bem que pode lhe recuperar algum conforto financeiro: uma antiga casa da mãe no pequeno distrito de Quixeramobim. Chegando lá, passa por percalços e conhece pessoas que podem lhe ajudar ou lhe atrapalhar no objetivo traçado.

O início de cortes rápidos e montagem dinâmica dá a velocidade necessária para o filme finalmente descansar e ter um desenvolvimento com maior fluidez: é na chegada ao Ceará onde o tempo entre os cortes aumenta, quando a relação entre os personagens evolui e onde até mesmo as piadas melhoram.

Há no entanto certas superficialidades que incomodam. A seleção musical funciona como se estivesse num jogo de Qual É A Música: se uma pessoa vai presa, começa a tocar “você tá preso, teje preso”. Se a protagonista se prepara pra viajar, ouvimos “arruma a mala aê”. Se um grupo se maquia e dança livremente, “abra as suas asas, solte suas feras”. Essa obviedade repetidas vezes irrita e tira a graça das cenas.

A exceção dessa preguiça musical encontra guarida em uma divertida passagem que envolve Aimée e Darlan (Edmilson Filho) dançando um forrozinho: é simples, mas efetiva em colocar a trama para frente, avançando a história de forma orgânica.

Aliás, há um destaque específico que rouba a atenção e se torna a joia oculta do filme: Valéria Vitoriano, que ganhou fama com a personagem Rossiclea. Após uma participação pequena e também ótima em Cabras da Peste, Valéria ganha destaque e revela em Bem-Vinda A Quixeramobim uma face pouco explorada na carreira: interpretando a dona de pousada/cabaré Genésia Gilda, a atriz transita entre o cômico e o comovente com uma facilidade e destreza admiráveis.

É lindo ver uma artista incorporar uma pessoa com alma de mãe transparecendo tão verdadeira, demonstrar saudades por uma amiga que se foi, ser capaz de levar às lágrimas em uma despedida ao dizer: “Você tá certa. Siga seu rumo”, tendo meia hora antes dito: “Ó A ZUADA AÍ, CARAI! TAMO REZANDO, ARRIÉGUA. AMÉM, PRONTO.”. Desde já, torço para que tenhamos a oportunidade de vê-la em mais papeis.

O filme em si defende que às vezes mudar o ângulo pode ser necessário para superar dificuldades: um local pouco desenvolvido e no fim do mundo pode conter as pessoas mais acolhedoras que alguém já conheceu. Não há conflitos aprofundados, as soluções soam convenientemente fáceis, mas a incrível naturalidade com a qual o elenco carrega o texto faz com que isso seja superado e a sensação final seja positiva.

 

 

 

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COMO DESTRUIR UM CASAMENTO ?

Concluiu cursos ministrados por Pablo Villaça e o Curso Básico de Cinema da Casa Amarela (Universidade Federal do Ceará). Assiste muitos filmes, lê muito sobre cinema. Embora saiba que pra vencer importa mais campanha do que qualidade, sempre se empolga com temporadas de premiação.