Beleza Avassaladora pode não ser a primeira escolha na infinita lista de títulos da Netflix para os amantes do cinema cult. Porém, trata-se de uma escolha perfeita para o público assíduo das envolventes tramas teledramatúrgicas. O filme possui estrutura cinematográfica, mas seu roteiro e linguagem assemelham-se a uma novela pocket de aproximadamente duas horas de duração.

O cinema indiano de indústria, popularmente conhecido por Bollywood, tem em sua assinatura o exagero. Isso se reflete em todas as obras comerciais hindi, porém de formas diferentes. No caso de Beleza Avassaladora o demasiado não acontece no cenário, figurino ou atuação dos personagens e sim na trama. Trata-se resumidamente de uma história de amor melodramática, surpreendente e sádica. 

Sintetizado pela Netflix como excêntrico, psicológico e intimista, a obra dirigida por Vinil Mathew (diretor da comédia romântica hindi Hasee Toh Phasee de 2014) e roteirizada por Kanika Dhillon (co-roteirista do suspense indiano De Quem É a Culpa? de 2020) o filme brinca com a imaginação do espectador expondo diversas possibilidades para desvendar o crime de assassinato de Rishu (Vikrant Massey), marido de Rani (Taapsee Pannui).

Rani é uma mulher com traços feministas e mestre em literatura, embora tradicionalista em alguns aspectos da feminilidade, que inicialmente recusa-se a ser a rainha do lar. Suas especialidades e interesses são os assuntos relacionados à beleza e à literatura de Dinesh Pandit, habilidades reprimidas pela sogra que almeja uma esposa serviçal e doméstica para o filho Rishu.

Isso é algo escrachado no filme, cujas cenas de discussão repetem-se inúmeras vezes. Isso leva Rani a uma depressão por não se adaptar ao casamento infeliz, doméstico e nada amoroso.

A trama do filme tem seu ponto de virada com a chegada do primo Neel (Harshvardhan Rane) que desperta um interesse sexual imediato em Rani. Após diversos flertes, Rani sucumbe aos braços de Neel, motivo de vergonha familiar e ira de Rishu.

Com final inesperado e surpreendente, Beleza Avassaladora explora o relacionamento de Rani e Rishu para superar a traição e retomar o casamento. A problemática social do filme dá-se na normalidade das agressões de Rishu e submissão de Rani auto afirmando-se merecedora de todas as crueldades do marido por ter sido ela “a causadora” de todo sofrimento.

A obra melodramática e exagerada normaliza a submissão feminina, moldando a personalidade da mulher a fim de encaixar-se no padrão esposa e isenta a responsabilidade do homem de suas violências que poderiam ter resultado em mais um caso de feminicídio.

É importante questionar a história de amor explorada no filme, cujo roteiro é assinado por uma mulher, pois mesmo sendo uma história de suspense intrigante e com uma protagonista feminina, Rani repete os padrões patriarcais de submissão e inferioridade da mulher. Dores latentes na sociedade e amplificadas pelo isolamento social da pandemia com aumentos grotescos dos números de casos de feminicídio.

Beleza Avassaladora deve ser encarada como uma obra de ficção, não como exemplo de relação matrimonial e amorosa.

 

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